SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Morta em um atentado que, especula-se, visava o seu pai, um dos principais arquitetos da expansão russa Aleksandr Dugin, Daria Dugina seguia os passos de seu progenitor.

Como ele, era fortemente a favor da invasão da Ucrânia pela Rússia, usando suas aparições como comentadora política numa TV estatal -onde seu pai foi editor-chefe- para endossar as ações do Kremlin no conflito. Também como ele, defendia o "eurasianismo", teoria que prega a expansão da presença de Moscou para as regiões de influência histórica do povo russo.

Em entrevista recente citada pelo jornal The Washington Post, por exemplo, ela afirmou que a verdadeira identidade ucraniana estava localizada no oeste do país invadido, mas que a parte leste, incluindo o Donbass, era passível de aceitar um "império eurasiano", nas palavras delas, baseado na nacionalidade e na fé religiosa.

Em outra, disse que o massacre de 450 civis pelo Exército russo em Butcha, nos arredores de Kiev, em abril -classificado por alguns como um crime de guerra- foi encenado, numa campanha para manchar a imagem da Rússia.

Mas ao contrário de Dugin, que ganhou fama até no Brasil com suas ideias de extrema direita, sua filha se dedicou sobretudo a ecoar as ideias do pai, e era pouco conhecida mesmo na Rússia, fora dos círculos ultra nacionalistas, segundo o New York Times. Vale notar que mesmo a influência de Dugin, que já foi chamado de "ideólogo de Putin", tem sido objeto de especulação, com alguns analistas afirmando que é significativa e outros considerando-a mínima.

Dugina tinha 30 anos de acordo com a mídia estatal russa. Era editora-chefe do United World International (UWI), site criado em 2020 voltado para análises geopolíticas, onde encomendava textos de colaboradores.

Sua atuação na plataforma, acusada de promover desinformação sobre a Guerra da Ucrânia, fez com que ela fosse alvo de sanções pelos Estados Unidos e Reino Unido.

Enquanto o primeiro cita um artigo publicado no site este ano que afirmava que a Ucrânia pereceria caso fosse admitida na Otan, aliança militar ocidental liderada pelos EUA, o segundo descreve a comentadora política como responsável por promover uma política que "desestabiliza a Ucrânia e mina ou ameaça a sua integridade territorial, a sua soberania e a sua independência".

O conglomerado a que o United World International (UWI) pertence, o Projeto Lakhta, também foi acusado pelos EUA de ter usado táticas de desinformação para interferir nas eleições americanas de 2018, criando usuários de redes sociais fictícias para postar textos a favor do então candidato Donald Trump e contra Hilary Clinton.

Dugina morreu quando o carro em que estava explodiu neste sábado (20) nos arredores de Moscou. Os socorristas que a atenderam dizem que a morte foi instantânea, e que seu corpo foi desfigurado pelas chamas.

O Comitê de Investigação da Rússia abriu uma apuração do ataque, tratado como um "crime premeditado". O órgão afirma que um explosivo foi plantado no veículo, do lado do motorista.

Embora as investigações ainda estejam em curso, o Ministério de Relações Exteriores da Rússia especulou que a Ucrânia estaria por trás da explosão, e Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria, afirmou que um possível envolvimento ucraniano apontaria para uma política de "terrorismo de Estado" instituída por Kiev.

Mikhailo Podoliak, conselheiro da Presidência ucraniana, negou a participação da Ucrânia na morte de Dugina e atribuiu a culpa a conflitos internos entre "diversas facções políticas" da Rússia. Ele ainda sugeriu que o incidente teria sido uma resposta "cármica" aos apoiadores das ações russas.

De acordo com o New York Times, Dugina trabalhava em um livro sobre a Guerra da Ucrânia chamado de "The Book of Z", ou o livro de Z, em referência à letra pintada em vários dos tanques russos que invadiram a Ucrânia. A letra, em alfabeto latino, significava "Za pobedu", ou pela vitória.


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