SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Poderoso clérigo muçulmano xiita do Iraque, Moqtada al-Sadr anunciou nesta segunda-feira (29) sua aposentadoria definitiva da política e o fechamento de seus escritórios, em resposta a um impasse que já dura dez meses meses e deu ao Iraque seu período mais longo sem governo.
A resposta de seus apoiadores foi imediata -dezenas de pessoas invadiram a sede do governo e mergulharam na piscina. O Palácio Republicano fica na Zona Verde de Bagdá, região de ministérios e missões estrangeiras que já vinha sendo ocupada há semanas por grupos de manifestantes pró-Sadr.
No meio da confusão desta segunda foram ouvidos tiros, segundo relato de testemunhas a agências de notícias internacionais.
Após a invasão, Mustafa al-Kadhimi, o primeiro-ministro interino aliado de Sadr, suspendeu as reuniões de seu gabinete. O Exército decretou toque de recolher no país todo a partir do fim do dia, e pediu que os manifestantes deixem a Zona Verde para evitar mais confrontos.
Sadr não detalhou o fechamento de seus escritórios, mas disse que as instituições culturais e religiosas permanecerão abertas.
Sadr é uma das únicas pessoas no Iraque -além do aiatolá Ali al-Sistani, grande autoridade religiosa xiita- capazes de mobilizar as massas. Tem milhões de seguidores, uma milícia e um império financeiro. O que Sadr não tem ainda é um governo -e é isso que ele demanda desde que seu partido venceu as eleições.
A crise que entra mais uma vez em ebulição vem sendo gestada há meses. Sadr obteve a maior quantidade de votos em outubro do ano passado, mas ficou sem a maioria no Parlamento. Em junho, depois de não conseguir formar um governo que excluísse seus rivais, principalmente partidos xiitas apoiados pelo Irã, optou por retirou todos os seus parlamentares do governo.
No meio da crise, insistiu na dissolução do Parlamento e em eleições antecipadas. Ele diz que nenhum político que está no poder desde a invasão dos Estados Unidos no Iraque, em 2003, pode ocupar o cargo.
Sadr galvanizou sua legião de apoiadores nos últimos meses, desorganizando o esforço do Iraque para se recuperar de décadas de conflito e sanções econômicas estrangeiras. No último dia 30, seus apoiadores invadiram o Parlamento, num ato que deixou 125 feridos.
"Eu anuncio minha retirada final", disse Sadr em um comunicado publicado em sua conta no Twitter nesta segunda, criticando outros líderes políticos xiitas por não atenderem a seus pedidos de reforma.
Esta não é a primeira vez que o líder se retira da política -ele já havia abandonado o governo no passado e dissolvido milícias leais a ele. Contudo, acabava retornando à vida pública após anúncios semelhantes, mas o atual impasse político no Iraque parece mais difícil de resolver do que os anteriores.
Como no caso de outros líderes populistas ao redor do mundo, o discurso de Sadr é marcado por contradições. Apesar de criticar o sistema e pedir uma nova ordem política, menos corrupta, ele se beneficia do estado das coisas. Seus seguidores ocupam cargos no governo, por exemplo.
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