MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - Um dos principais líderes políticos da Itália, parte da coligação com maior chance de vencer a eleição de 25 de setembro, o populista de ultradireita Matteo Salvini passou os últimos dias condenando sanções contra a Rússia, estratégia central da aliança do Ocidente para responder à Guerra da Ucrânia. Em sua visão, os objetivos não foram alcançados e os efeitos na economia prejudicam empresas e famílias.
As falas, além de ecoarem argumentos de Moscou, destoam tanto do discurso da frente europeia, que se esforça para aparentar e manter união em torno das medidas, quanto da sua mais importante aliada na disputa eleitoral, Giorgia Meloni. A líder do Irmãos da Itália tem repetido que manterá a política externa de Mario Draghi -pró-Ucrânia e pró-sanções- caso se torne primeira-ministra.
"A Europa impôs as sanções. Deveria parar a guerra, não aconteceu. Deveríamos deixar [Vladimir] Putin de joelhos, não estamos conseguindo. De joelhos estão milhões de trabalhadores e trabalhadoras na Itália e na Europa", afirmou Salvini nesta terça (6).
No domingo, em um evento para empresários, ele dedicou quase todos os dez minutos de sua apresentação para rechaçar as medidas contra a Rússia. "Queremos ir em frente com as sanções? Ok. Queremos proteger a Ucrânia? Sim. Mas não gostaria que, em vez de fazer mal ao sancionado, fizéssemos mal a nós mesmos", disse. "Me acusam de ser enviado do Putin, mas defendo o interesse italiano."
As declarações chamam a atenção pelo fato de, entre uma fala e outra, a Rússia ter interrompido, nesta segunda (5), o fornecimento à Europa pelo gasoduto Nord Stream 1, com a afirmação de que a decisão não será revertida enquanto as sanções não forem derrubadas.
Segundo o Kremlin, a suspensão ocorre por problemas técnicos causados pelas sanções, que teriam dificultado a manutenção. As autoridades da UE rejeitaram a justificativa e acusaram Moscou de usar o gás como arma de chantagem. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, anunciou que uma resposta está sendo preparada, com auxílios, redução do consumo e teto no preço do gás.
Aplicadas desde fevereiro, as sanções europeias restringem importações da Rússia, como petróleo e fertilizantes, impedem o acesso a portos e aeroportos e excluem do sistema internacional grandes bancos. Também atingem individualmente a cúpula do governo e empresários. Ao mesmo tempo que afetam a economia do país, trazem efeitos para aqueles que as aplicam, como o aumento de preços de alimentos e energia. Em agosto, a inflação da zona do euro atingiu o recorde de 9,1%.
Como o custo de vida está no centro da campanha eleitoral na Itália, Salvini defende que as sanções precisam ser revistas. Sua posição, no entanto, atrai suspeitas dentro e fora do país, devido aos laços do direitista com Moscou, antigos e recentes. Em março, dias após o início da guerra, Salvini encontrou em segredo o embaixador russo na Itália, como revelou meses depois o jornal italiano Domani.
"Acho muito grave que, ao mesmo tempo, Putin e Salvini se coloquem contra as sanções europeias. É uma consonância perturbadora", afirmou na segunda Enrico Letta, líder do Partido Democrático, da chapa de centro-esquerda que está mais de 15 pontos atrás da coligação de direita nas pesquisas. "Putin está tentando influenciar a campanha eleitoral e devemos reagir unidos, Europa e Itália."
Em busca de driblar desconfianças em relação às próprias posições eurocéticas, Giorgia Meloni tem se distanciado de Salvini em temas de política externa, com a promessa de manter a linha de Draghi, que aproximou a Itália do eixo franco-alemão. No mesmo evento em que Salvini participou no domingo, ela reafirmou a intenção de continuar unida ao bloco europeu.
"Se a Itália se afasta de seus aliados, para a Ucrânia não muda nada, enquanto para nós muda muito. É uma questão de credibilidade", afirmou Meloni, que defende a adoção de um teto no preço do gás, como propõe a UE.
O desencontro entre os aliados da ultradireita em torno das sanções se soma a diferenças de propostas contra a imigração e para conter os efeitos da crise econômica. Ele é a favor de um imposto único de 15% e do aumento de gastos além do orçamento para um pacote de auxílios de 30 bilhões de euros. "Não faço promessas que não poderei manter", disse Meloni.
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