WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Em meio às tensões após a sequência de manifestações de caráter golpista do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), o senador americano Bernie Sanders apresentou nesta quarta-feira (7) uma proposta ao Senado dos Estados Unidos para que o governo do democrata Joe Biden reconheça automaticamente o resultado das eleições de outubro no Brasil e suspenda relações em caso de golpe.

A proposta é pela votação de um "Sense of Senate", que define uma espécie de opinião formal da Casa sobre assuntos de interesse nacional. Caso aprovada, a resolução definirá que a opinião do Senado é a de que deve ser empossado como presidente do Brasil quem quer que vença o pleito.

Apesar de ter sido apresentada neste 7 de Setembro, dia em que Bolsonaro usou eventos do Bicentenário da Independência para fazer campanha e repetir ameaças, a apresentação da proposta não está diretamente relacionada aos eventos desta quarta. Bernie já tinha anunciado em agosto a intenção de sugerir a moção assim que o Senado voltasse do recesso de verão, o que ocorreu nesta terça (6).

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no fim do mês passado, o parlamentar evitou fazer críticas diretas ao presidente brasileiro, mas afirmou que "se o resultado [da eleição] se desdobrar em algo ilegal, se houver um golpe militar que coloque no lugar um governo ilegal, os EUA têm que deixar isso muito claro: o Brasil não terá apoio, financeiro ou de qualquer outro modo".

Em mais de uma ocasião antes da campanha atual, Bernie criticou Bolsonaro e elogiou o ex-presidente Lula (PT), que lidera as pesquisas. Agora, em tentativa de se blindar, ele fez questão de dizer que sua defesa da democracia brasileira no Congresso americano não é partidária. "O que estou fazendo não é contra ou a favor de Lula, contra ou a favor de Bolsonaro. Só quero garantir que os EUA jamais apoiem um governo ilegal", disse.

"O Brasil é a quarta maior democracia do mundo e o maior país da América Latina, é essencial que a democracia continue a existir."

Em nota divulgada nesta quarta celebrando os 200 anos da Independência, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, também reforçou a importância do comprometimento com a democracia.

"Como as duas maiores democracias no hemisfério ocidental, EUA e Brasil compartilham um comprometimento em apoiar a democracia e demonstrar seus benefícios à população", disse, destacando que as nações continuam a trabalhar no aprofundamento do relacionamento estratégico e econômico.

"Juntos, nossos países podem garantir a paz e a segurança regional, avançar nos direitos humanos e na justiça racial e construir um futuro seguro, saudável, sustentável e próspero para as próximas gerações".

O mandatário brasileiro tem colocado como condição para aceitar uma eventual derrota a garantia de as eleições serem transparentes --o que o Tribunal Superior Eleitoral e órgãos observadores afirmam que já ocorre.

Quando se reuniu com Joe Biden na Cúpula das Américas, por exemplo, Bolsonaro repetiu que queria "eleições limpas, confiáveis e auditáveis". Na ocasião, o americano respondeu, segundo o Departamento de Estado, que "os EUA não toleram e não aceitam intervenção no sistema eleitoral em nenhum lugar".

Bernie passou a dedicar mais atenção ao pleito de outubro depois de receber, em julho, uma comitiva de entidades da sociedade civil brasileira, liderada pelo grupo Washington Brazil Office, que viajou à capital para alertar líderes americanos sobre o risco de ruptura democrática no Brasil.


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