SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando o papa Francisco anunciou a viagem para o Cazaquistão para a qual embarcou nesta terça (13), seu intuito parecia claro ?vocal em suas críticas à Guerra da Ucrânia, mas impedido de visitar Kiev em razão de suas dores no joelho, ele ao menos espalharia sua mensagem de paz perto daquelas fronteiras.
Mas um interlocutor central para o seu plano não estará no local para ouvi-lo. O chefe da Igreja Ortodoxa Russa, o patriarca Cirilo 1°, cancelou no mês passado sua presença no país. O religioso, amigo de Vladimir Putin, é a favor do que o Kremlin chama de "operação militar especial", e vê na sua luta contra o Ocidente uma batalha entre o bem e o mal em que cabe a Rússia, dona por direito do território ucraniano, proteger o seu povo dos que tentam pervertê-lo.
Os líderes de dois dos principais ramos do cristianismo se encontraram pela primeira vez há seis anos, na primeira reunião do tipo desde o cisma de 1054, e não voltaram a se ver desde então. Havia uma expectativa de uma nova assembleia da dupla em Jerusalém em junho, mas Francisco disse que diplomatas do Vaticano desaconselharam a ideia em entrevista ao jornal argentino La Nación da época.
A ausência de Cirilo pesa na visita do papa de agora, a segunda de um pontífice à nação na Ásia Central ?a primeira, feita por João Paulo 2°, ocorreu dias depois do atentado de 11 de setembro.
Francisco passa três dias em Nur-Sultan, a futurista capital cazaque, para participar do Congresso dos Líderes das religiões mundiais e tradicionais. Além de discursar e se reunir com outros líderes religiosos, ele ainda celebra na quarta uma missa para os católicos do país, que representam menos de 1% da população ?70% dos 19 milhões de cazaques são muçulmanos sunitas, e 26%, cristãos ortodoxos.
O primeiro pronunciamento do papa ao governo do país, na noite desta terça (13), foi sobre a Guerra da Ucrânia. Em sua fala, ele chamou o conflito de "trágico e sem sentido" e ressaltou a necessidade de as nações diminuírem a retórica de Guerra Fria. Apesar de aliado de Putin, o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, presente no encontro, não apoia a invasão, e já insinuou que espera que a massiva comunidade russa no norte de seu território não reacenda ambições imperalistas russas.
Um segundo desencontro também vem sendo apontado pela imprensa como uma oportunidade desperdiçada. Por uma coincidência, o papa Francisco estará no Cazaquistão ao mesmo tempo que o líder chinês Xi Jinping, em sua primeira viagem ao exterior dede o fechamento das fronteiras da China em decorrência da Covid. A segunda parada de Xi é o Uzbequistão, onde deve se reunir com Putin.
Questionado sobre sua pretensão de encontrar Xi pelos jornalistas que o acompanhavam no voo a Nur-Sultan, o pontífice disse que estaria disposto a ir à China a qualquer momento, mas que não tinha nenhuma novidade sobre o assunto para oferecer.
Ele tem tentado melhorar as relações com Pequim, abaladas desde a Revolução Comunista em 1949, que obrigou os católicos a seguirem a Associação Patriótica, com sua "igreja católica chinesa", enquanto a parcela tradicionalmente leal ao Vaticano foi forçada a se reunir de maneira informal ou clandestina.
A viagem acontece em um momento delicado para Francisco, cujos problemas de saúde vêm incitando especulações sobre uma possível renúncia ?opção que ele admite estar em seu horizonte.
Aos 85 anos, o pontífice sofre com uma osteoartrite que afeta um ligamento do joelho direito. As dores no local o fizeram cancelar vários compromissos nos últimos meses, além de adotar com frequência uma cadeira de rodas.
No voo de agora, ele se apoiou em uma bengala para ir cumprimentar os jornalistas, e aparentou sentir dor ao voltar a seu lugar. Esta também foi a primeira vez que Francisco usou uma cadeira de rodas para sair do avião e entrar no terminal.
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