SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para pessoas de uma certa idade, falar em príncipe e princesa de Gales traz à mente imagens de Diana e Charles no auge da influência da primeira. Nos anos 1980 e início dos anos 1990, a chamada princesa do povo viajava pelo mundo em suas missões reais e solidificando sua imagem como ícone fashion, acompanhada de seu então marido, que nunca desfrutou do mesmo brilho e adoração.
Avance 30 anos na história, e Charles agora é rei da Inglaterra, o terceiro de seu nome, e o príncipe de Gales agora é seu filho William. Além do novo título, William tornou-se o primeiro na linha sucessória ao trono, após a morte de sua avó Elizabeth, no último dia 8.
O novo príncipe de Gales enfrenta agora o desafio de solidificar uma identidade que, até aqui, sofreu o peso de ser desenhada constantemente sob a régua dos ocupantes anteriores do título. Seu pai teve o título por 64 anos, enquanto sua mãe, ainda que o tenha tido por apenas 16, mudou seu patamar e o significado, tornando-o mundialmente conhecido e ajudando a trazer a família real para a era das celebridades modernas.
William nasceu em 1982, no segundo ano de casamento de seus pais; seu irmão, Harry, veio dois anos depois. Ainda que os detalhes de seu relacionamento com a mãe sejam escassos, tudo indica que era próximo e amoroso. O príncipe falou recentemente em algumas ocasiões sobre Diana, lembrando de momentos como abraços e de músicas que ela cantava para os filhos.
Fato é que Diana era fotografada com frequência em momentos mais informais e íntimos com os príncipes, carregando-os no colo, esquiando juntos e brincando --um contraste com a geração anterior, em que, ao menos publicamente, a rainha Elizabeth e o príncipe Philip pareciam ter uma relação mais distante e formal com os quatro filhos, Charles, Andrew, Anne e Edward.
Sabe-se menos sobre a relação de William com o pai, mas pode-se imaginar que tenha sido abalada pelo divórcio com Diana, finalizado em 1996; antes disso, em 1993, vieram à tona as explosivas gravações de conversas entre Charles e a hoje rainha consorte Camilla Parker-Bowles, confirmando os rumores do adultério. Mais recentemente, porém, imagens dos dois juntos sugerem que estejam em bons termos, e por vezes mostram Charles interagindo de forma terna com os netos George, 9, Charlotte, 7, e Louis, 4.
A morte de Diana veio quando William tinha 15 anos, e o príncipe não foi poupado de ter sua dor com a perda da mãe escancarada em público. As fotos de William e seu irmão Harry, então com 12 anos, de cabeça baixa diante do caixão da mãe rodaram o mundo. Em 2017, William falou a um documentário sobre a tragédia: "Não há nada assim no mundo. É como se um terremoto tivesse atingido sua casa, sua vida, tudo. Sua mente se quebra completamente. Demorou para eu perceber a magnitude de tudo aquilo."
William cresceu no palácio de Kensington e em Highgrove House. Estudou em escolas particulares, inclusive na prestigiosa Eton College, e se formou em geografia pela Universidade de St. Andrews, na Escócia. Serviu por sete anos e meio nas Forças Armadas, onde atuou como piloto na Força Aérea Real e na Marinha, e depois trabalhou como piloto de ambulância aérea civil. Em 2017, deixou o emprego para dedicar-se em tempo integral às atividades de membro da família real.
William viveu alguns anos de maior exposição na mídia desde quando se casou com Kate Middleton, em 2011, no primeiro grande casamento real em décadas, que gerou grande interesse mundial. As reclamações pelo fato de Kate ser uma plebeia não duraram muito; apesar das tentativas dos tabloides de colar críticas nela por ser "de classe média" ou de compará-la a Diana, o casal tem hoje alta aprovação no Reino Unido (68% para Kate e 66% para William, segundo o instituto YouGov) e é recebido com admiração e carinho por onde passa, ainda que não com a mesma devoção que era dirigida a Diana.
Seu trabalho de caridade em prol das crianças e pela saúde mental -no âmbito do qual compartilhou suas experiências pessoais sobre o tema de forma pouco vista antes da história da família real- são elogiados. Também apoia os Jogos Invictus, competição esportiva criada por seu irmão Harry para militares e ex-militares feridos e reabilitados.
O nascimento de cada um de seus filhos também virou evento mundial e aumentou o carisma da família. As três crianças são mestras em fazer caras e bocas em eventos oficiais. Cioso do papel dos paparazzi na morte de sua mãe, William os enfrenta com firmeza desde que começou a namorar com Kate.
Recentemente, brigou com fotógrafos que tentavam registrar imagens enquanto ele passeava de bicicleta com as crianças. Em 2017, o casal real venceu um processo contra um tabloide francês que publicou fotos de Kate fazendo topless. Hoje os paparazzi costumam ser menos agressivos nas tentativas de obter fotos da família real --que, por sua vez, fornece mais imagens de sua vida privada para publicação, como Kate costuma fazer com fotos que ela mesma tira das crianças.
Outro baque na vida de William veio com o anúncio de que ser irmão se afastaria das suas funções de realeza, no início de 2020, e a entrevista de Harry com a esposa, Meghan Markle, à apresentadora Oprah Winfrey no ano passado. O casal relatava, entre outras coisas, comentários racistas dentro da família real sobre seus filhos e que Charles e William estavam "presos" na família real.
William se viu impossibilitado, por óbvio, de fazer qualquer comentário para refutar ou confirmar as falas do irmão, o que acabou dando combustível à narrativa nos tabloides sobre a distância entre os dois. Evidentemente, a plebe não sabe se eles se falam por meios digitais, mas com Harry vivendo na Califórnia e William no Reino Unido, o funeral da avó Elizabeth foi a primeira vez que se viram em mais de dois anos.
Ainda que o tempo tenha desbotado a mancha do escândalo de Charles e Camilla, o atual rei está longe de ter o passado incontroverso do atual príncipe de Gales. Hoje careca, aos 40 anos, com cara de pai, William passou incólume pela juventude sem escândalos e se casou com uma princesa que parece levar tão a sério quanto ele os deveres reais, o que os aproxima da reputação de serviço e dignidade da avó Elizabeth mais do que do legado turbulento do pai. Por outro lado, os erros de Charles o humanizam e o tornam uma pessoa de carne e osso, enquanto William segue a tradição da finada rainha de ser indecifrável.
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