LONDRES, REINO UNIDO (FOLHAPRESS) - Ir ao centro de Londres nos últimos dias tem demandado paciência e planejamento. Desde a morte da rainha Elizabeth 2ª, no último dia 8, multidões circulam perto do Palácio de Buckingham, e o volume de flores nos portões foi tão alto que autoridades pedem que as pessoas deixem os buquês no parque ao lado.
A alguns minutos dali, na região do Parlamento, a fila para visitar o Salão de Westminster, onde está o caixão com o corpo da monarca, chegou a passar de 24 horas de duração. Por causa da longa espera, mais de 700 pessoas já precisaram de atendimento médico.
Com ruas bloqueadas, dirigir não é tarefa fácil. A Prefeitura pede que a preferência seja pelo transporte público, mas nem o excelente sistema de metrôs de Londres está dando conta da superlotação. Estações fecham sem aviso prévio, dependendo do fluxo de passageiros, e às vezes é preciso andar mais de um quilômetro até a mais próxima.
O tumulto é aliviado pela gentileza dos envolvidos na organização do funeral, como policiais e seguranças que esclarecem as dúvidas dos visitantes. Para as centenas de milhares de pessoas que chegaram a Londres nos últimos dias, prestar homenagens à monarca mais longeva da história do Reino Unido não é um sacrifício, mas sim satisfação.
Já para além dos pontos turísticos, a rotina está normal. Pubs e restaurantes estão cheios, escolas, cinemas e casas noturnas estão abertas. Não há trânsito, e o transporte público funciona.
A exceção será o dia do funeral de Estado e enterro da monarca, segunda-feira (19), quando o rei Charles 3º decretou feriado nacional. Há muita gente incomodada com o nível das restrições.
Em Heathrow, principal aeroporto da capital inglesa, voos foram cancelados quando o cortejo com o caixão percorreu as ruas da cidade na última quarta-feira (14) para que até o céu estivesse em silêncio. Algo similar deve acontecer na próxima segunda.
Depois de receber críticas, a British Cycling, órgão responsável pelo esporte no país, voltou atrás e pediu desculpas após pedir que as pessoas evitassem andar de bicicleta no dia do funeral, em sinal de respeito.
O ciclismo, paixão dos britânicos e um dos principais meios de transporte para trabalho ou lazer, também foi alvo de polêmica na cidade de Norwich, ao norte de Londres. Autoridades locais colocaram avisos dizendo que, entre 9 e 21 de setembro, um estacionamento de bicicleta seria fechado. O motivo era a proximidade a um local onde o público estava deixando flores.
A prisão de manifestantes contrários à monarquia em eventos que marcaram a ascensão do rei Charles 3º e a morte da monarca tem gerado debates sobre o direito à liberdade de expressão. Em Londres, uma mulher que segurava um cartaz com os dizeres "Not My King" (não é o meu rei) foi retirada pela polícia da frente do Parlamento.
Em Oxford, um homem foi detido por gritar "quem o elegeu?" durante a proclamação do rei. Um jovem foi preso em Edimburgo, na Escócia, por xingar o príncipe Andrew durante o cortejo que levava o corpo da rainha. Nos últimos dias, a hashtag #NotMyKing virou um dos trending topics do twitter no Reino Unido.
O Republic, grupo que defende o fim da monarquia, condenou os acontecimentos dos últimos dias. "A liberdade de expressão é fundamental para qualquer democracia", disse o diretor-executivo Graham Smith. "Charles pode ter herdado a coroa, mas não a deferência e o respeito que sua mãe possuía."
Já a Polícia Metropolitana de Londres escreveu em um comunicado que "as pessoas têm o direito à liberdade de expressão", mas que também seria preciso "equilibrar os direitos dos manifestantes com o de outros que estão em luto e querem refletir".
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