NOVA YORK, EUA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio à agenda esvaziada de reuniões com líderes internacionais em Nova York, aonde viajou para discursar na 77ª Assembleia-Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro (PL) encontrou tempo para almoçar com apoiadores em uma churrascaria e para uma videoconferência com empresários do Brasil.

Bolsonaro passou menos de 24 horas em Nova York. Ele chegou ao hotel na noite de segunda-feira (19) e saiu em direção ao aeroporto por volta das 15h20, no horário local (16h20 de Brasília), desta terça (20).

Dezenas de apoiadores, que organizaram caravanas de outras cidades dos EUA, o aguardavam em cada aparição pública, mas também houve protestos contra sua presença.

Na noite de segunda, antes mesmo da chegada do presidente, cerca de 60 apoiadores discutiram com manifestantes que foram ao hotel em que ele se hospedaria carregando faixas com os dizeres "Brasileiros contra o fascismo" e "51 imóveis em dinheiro vivo". Os grupos bateram boca, com bolsonaristas cantando o hino nacional e gritando "vai para a Venezuela", ao que ouviram "genocida" e "tchutchuca do centrão".

Na madrugada, imagens gigantescas do presidente foram projetadas na lateral do prédio da ONU com expressões como "Brazilian shame" (vergonha brasileira). A intervenção foi iniciativa da US Network for Democracy in Brazil, que reúne acadêmicos americanos, ativistas e organizações da sociedade civil.

"Nossa ação comunica ao mundo que Bolsonaro está apoiado em um sistema de fake news para avançar seu projeto pessoal de poder e de enriquecimento, não um projeto nacional de desenvolvimento do Brasil", disse Marina Adams, organizadora do grupo. "A ideia é retomar e subverter o palanque que ele tem feito das instituições internacionais." O grupo coletou fundos para a ação a partir da doação de seus integrantes.

Em outra intervenção semelhante --esta ainda anônima--, o topo do Empire State Building também recebeu projeções com críticas ao presidente, com termos como "tchutchuca do centrão" e "brochonaro".

Bolsonaro voltou a usar o termo "imbrochável", que consagrou em discurso no 7 de Setembro, ao elogiar os ministros do governo. "Compare com outros países do mundo. Graças a --vocês me desculpem--, além de imbrochável, sou outras coisas também, como [bom] em escolher bons ministros", disse.

Na manhã desta terça, o presidente deixou o hotel a menos de dez minutos do início da Assembleia-Geral e não compareceu a uma agenda que teria antes do evento com o secretário-geral António Guterres.

A previsão era que ele saísse do hotel às 8h20, quando de fato apareceu na portaria e falou com apoiadores. Depois disso, porém, Bolsonaro voltou para o hotel e só reapareceu às 8h45, parando novamente para atender os partidários e a imprensa. O presidente gravou vídeos e tirou fotos com um grupo e, a jornalistas, menosprezou as pesquisas que o mostram em segundo lugar na corrida eleitoral.

"Não valem de nada", afirmou. Questionado sobre o que faria caso perca o pleito, declarou: "Não vou falar em hipótese, vamos ganhar no primeiro turno".

Bolsonaro chegou à sede da ONU quando Guterres já discursava. Durante a fala do presidente, houve novo protesto nas ruas de Nova York, com um grupo de sete lideranças da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) marchando até o Consulado do Brasil. O ato foi acompanhado por indígenas de outros países e ativistas.

"Bolsonaro, quanto você ganha para deixar nossas florestas queimarem?", dizia o coro, puxado em inglês, revezado com críticas ao desmonte na Funai, a conflitos em territórios indígenas e à explosão do desmatamento. "O presidente veio para mentir na ONU, então nós fomos até o consulado para desmenti-lo", disse Samela Sateré-Mawé, da comunicação da Apib.

Com a agenda anterior desmarcada, Bolsonaro e Guterres se encontraram brevemente apenas para uma foto no fim da manhã, depois de duas reuniões que o brasileiro teve com os líderes da Polônia e do Equador. O governo argumentou que o período curto nos EUA dificultava as chamadas bilaterais, mas Bolsonaro recebeu apoiadores na churrascaria Fogo de Chão por volta de meio-dia. O local estava lotado e nem todos conseguiram entrar. Do lado de fora, jingles de campanha foram tocados em caixas de som.

Uma brasileira que passava pela rua gritou "Fora, Bolsonaro" e recebeu uma série de xingamentos. Acompanhavam o presidente os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Fábio Faria (Comunicações), Carlos França (Relações Exteriores) e Joaquim Leite (Meio Ambiente), além do chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o pastor Silas Malafaia --este com o presidente desde Londres.

Do lado de dentro, um saxofonista que já acompanhara a claque na porta do hotel tocou para os apoiadores. O presidente se sentou em uma mesa nos fundos, tendo a seu lado o comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo --neto de João Figueiredo, último presidente da ditadura militar-- e Geralda Gonçalves, a Geigê, interlocutora com grupos de apoiadores nos EUA.

Também foi ao evento Jason Miller, ex-porta-voz de Donald Trump. Fundador da rede social Gettr, mídia social incensada pelo ex-presidente americano e por expoentes conservadores, o empresário tem acompanhado de perto a eleição brasileira e esteve no Rio de Janeiro nos atos do 7 de Setembro.

Com o salão tomado por apoiadores, Bolsonaro estava confortável e sorridente e chegou a subir em uma cadeira para discursar --repetindo habituais ataques à esquerda, com críticas ao MST. Segundo ele, o sucesso de seu governo pode ser medido na comparação "com outros países da América Latina e com a nossa Europa".

O presidente ainda exaltou seus ministros e afirmou que "alguns não deram certo", dizendo que os apoiadores "sabem os nomes deles" e que o grupo entrará "para o lixo da história" --Bolsonaro fez desafetos entre ex-membros da Esplanada, incluindo Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta.

Depois de uma hora, Bolsonaro saiu pela porta dos fundos da churrascaria, frustrando apoiadores que aguardavam no local, e foi a pé ao hotel. Nesse meio-tempo, parte de sua comitiva foi recebida com entusiasmo, caso de Malafaia, e parte circulava sem reconhecimento do público --Joaquim Leite foi a uma loja do Museu de Arte Moderna sem qualquer abordagem.

No hotel, o presidente conversou por vídeo com empresários do setor de supermercados do Brasil e saiu por volta das 15h20 em direção ao aeroporto.

Agentes da polícia de Nova York acompanhavam seus apoiadores. A segurança contrastava com a equipe de outros líderes. O equatoriano Guillermo Lasso, hospedado no mesmo local, chegou na noite de segunda-feira de forma bastante discreta.


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