WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, ameaçar usar armas nucleares contra o Ocidente, o chanceler do Brasil, Carlos França, voltou a defender a posição brasileira de neutralidade na Guerra da Ucrânia ao pedir respeito ao direito internacional "por todas as partes" do conflito.
França falou ao Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira (22), em reunião convocada durante a Assembleia-Geral da entidade para discutir a Guerra da Ucrânia. O encontro colocou frente a frente os chanceleres da Rússia, Serguei Lavrov; dos Estados Unidos, Antony Blinken; e da China, Wang Yi, além dos responsáveis pelas relações exteriores de todos os países com assento no órgão. O chanceler ucraniano, Dmitri Kuleba, também participou da reunião.
Carlos França repetiu os habituais apelos pelo cessar-fogo e por um acordo de paz, mas não se referiu diretamente à Rússia nenhuma vez no seu breve discurso, de menos de dois minutos.
"Ao longo destes sete meses [desde o começo da guerra], este conselho recebeu inúmeros relatórios de violações sérias de direitos humanos nas zonas de conflito, inclusive contra grupos vulneráveis de mulheres e crianças", afirmou. "O Brasil condena os abusos e defende uma investigação imparcial dos fatos, de modo que os responsáveis respondam por suas ações. Também reiteramos nosso pedido por completo respeito às leis humanitárias internacionais por todas as partes."
A posição é ambígua porque, embora existam uma série de registros de violações cometidas por parte de tropas russas, Moscou acusa as forças ucranianas de desrespeitaram os direitos humanos sobretudo nas regiões próximas à fronteira de maioria étnica russa, como o próprio Donbass.
Assim como fez o presidente Jair Bolsonaro (PL) em discurso na Assembleia-Geral na terça (20), França criticou as sanções à Rússia e afirmou que "não é hora de acentuar visões ou isolar as partes [envolvidas]."
Para o chanceler, "os riscos de escalada crescente pelas dinâmicas do conflito são simplesmente altos demais, e as consequências para a ordem mundial, imprevisíveis."
Na quarta (21), Putin foi à TV dizer que a Rússia "também tem vários meios de destruição" e que iria "usar todos os meios à disposição" para proteger o país. "Isto não é um blefe", ressaltou.
O discurso deu o tom da reunião do Conselho de Segurança desta quinta. O secretário-geral, António Guterres, afirmou que a "a ideia de um conflito nuclear, antes impensável, virou assunto de debate" e que isso é "totalmente inaceitável".
Em discurso muito mais duro que o do chanceler brasileiro, Guterres afirmou que é preciso investigar "um catálogo de crueldades" cometidas no conflito, que incluiria execuções sumárias, violência sexual e tortura contra civis e prisioneiros de guerra.
O português também criticou os planos de referendo em regiões ocupadas pela Rússia e disse que "qualquer anexação de um território de um estado por outro estado como resultado de ameaça ou uso da força é uma violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional."
A Rússia é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que tem poder de veto em votações do órgão, bem como Estados Unidos, França, China e Reino Unido. O Brasil ocupa uma das dez cadeiras temporárias, que são rotativas, e vota nas deliberações do órgão, mas sem poder de veto.
Serguei Lavrov, no entanto, não ouviu o discurso crítico de Guterres nem o de outros chanceleres porque entrou no salão da reunião apenas no momento de sua fala --outro representante de Moscou estava à mesa. Antony Blinken, por outro lado, permaneceu no local para ouvir o russo.
Ao conselho, Lavrov defendeu a invasão da Ucrânia e repetiu os argumentos de que Moscou está restabelecendo direitos desrespeitados nas regiões de maioria russa. Ele voltou a dizer que o governo ucraniano é tomado por neonazistas, que assumiram o poder após o que chamou de golpe de Estado de 2014 com apoio do Ocidente, quando um presidente pró-Moscou foi derrubado após intensa mobilização popular.
Lavrov, que foi embaixador da Rússia nas Nações Unidas e, sancionado, recebeu visto para viajar aos Estados Unidos neste ano de última hora, criticou o envio de armas do Ocidente à Ucrânia e afirmou que os países aliados de Kiev também são partes do conflito. "Os Estados Unidos e seus aliados, com o conluio de organizações internacionais de direitos humanos, estão encobrindo os crimes do regime de Kiev", disse.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, defendeu a postura dos EUA e criticou a ameaça nuclear russa de quarta-feira. "Que o presidente Putin tenha escolhido esta semana, quando a maioria dos líderes globais estão reunidos na ONU, para colocar lenha na fogueira, demonstra seu total desprezo pela Carta das Nações Unidas", afirmou.
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