BELO HORIZONTE, MG, E MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - A eleição geral na Itália, neste domingo (25), tem um interesse secundário para o Brasil. Dois deputados e um senador de Roma serão indicados pelos países da América do Sul.

Dos 50,8 milhões de eleitores italianos registrados para votar, 4,7 milhões estão fora do país --418 mil deles no Brasil. São quatro seções pelo globo, organizadas regionalmente, e o Brasil divide a sua com outros 12 países da América do Sul. A votação no exterior, por correspondência, começou antes, com o prazo final na tarde da última quinta (22) para a cédula chegar aos escritórios consulares.

Na disputa estão nomes conhecidos, como o ex-ministro e ex-vereador Andrea Matarazzo e o bicampeão de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi --ambos concorrem ao Senado, contra 12 candidatos de outros países.

O maior entrave para seu sucesso nas urnas, porém, está na representação do Brasil dentro do colégio sul-americano. Nesta eleição, estão em jogo 400 vagas na Câmara e 200 no Senado, 345 a menos, ao todo, do que na eleição de 2018 --o corte foi aprovado em referendo há dois anos. O total de cadeiras para os residentes no exterior também foi afetado, caindo de 18 para 12.

Como a Argentina conta com o maior número de eleitores, 756 mil, historicamente o senador mais votado da região sempre foi ítalo-argentino, restando ao Brasil alguma chance de eleger um deputado. Cerca de 1,5 milhão de cidadãos italianos moram na América do Sul.

Vem daí a estratégia de apostar em nomes populares. "Antes, as eleições eram restritas às comunidades italianas mais atuantes. Agora, até partidos brasileiros querem demonstrar alguma influência", diz Desiderio Peron, editor da revista Insieme, especializada em assuntos da comunidade ítalo-brasileira.

Matarazzo, 65, ex-embaixador na Itália, lançou-se na política do país depois de sair derrotado nos últimos pleitos no Brasil --ele deixou o PSDB em 2016 em meio às prévias paulistanas e migrou para o PSD, pelo qual não se elegeu vice-prefeito naquele ano nem prefeito em 2020. Se vencer, como contou em entrevista à Folha de S.Paulo no mês passado, promete fomentar laços econômicos entre os dois países e lutar pela criação de políticas públicas para facilitar a entrada de estudantes brasileiros nas universidades europeias.

O empresário concorre pelo Partido Socialista, aliado do Partido Democrático, principal sigla de centro-esquerda da Itália. Na disputa, ganhou o apoio do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e de celebridades como a socialite Narcisa Tamborindeguy e a apresentadora Silvia Poppovic.

Já Fittipaldi, 76, filiou-se ao Irmãos da Itália, favorito para vencer o pleito e indicar o novo premiê --Giorgia Meloni, a primeira mulher no posto. A sigla tem origem no pós-fascismo e uma plataforma anti-imigração.

O ex-piloto disse, em entrevista à Veja, que se eleito tentaria "mudar a imagem de fascista que o [presidente Jair] Bolsonaro tem na Europa". Ele amealhou apoios do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e de outros bolsonaristas, como o cantor Sérgio Reis e o sócio da RedeTV! Marcelo de Carvalho.

Fittipaldi afirmou ainda querer criar pontes entre atletas brasileiros e italianos e defender o direito de sangue da cidadania italiana, chamado de "jus sanguini" --hoje contestado por políticos à esquerda, que pressionam pelo "jus soli", em que a nacionalidade é atribuída ao local de nascimento.

O ex-piloto está mergulhado em dívidas e responde a mais de cem processos judiciais abertos por credores, após uma série de empreendimentos fracassados. Reportagem do UOL mostrou que bancos tomaram dele uma fazenda, um apartamento de luxo, um galpão e uma casa; passaporte, troféus e carros históricos também teriam sido confiscados. Estima-se que sua dívida tenha chegado a R$ 50 milhões.

Se a disputa ao Senado é mais ferrenha, à Câmara o país tem como favoritos a uma vaga o atual senador Fabio Porta (que concorre na chapa de Matarazzo) e o deputado Luis Roberto Lorenzato, da Liga, da chapa de Fittipaldi. Por fora, aparece Luis Molossi, filiado a um partido sediado na Argentina.

Em geral, os eleitos no exterior atuam para representar o interesse da comunidade italiana em seus países e regiões, com as mesmas atribuições dos eleitos na Itália. São nomeados em comissões e podem apresentar projetos. O salário mensal na Câmara é cerca de EUR 16 mil (R$ 82 mil), considerando adicionais.

Seja como for, é improvável que o eventual vencedor consiga, de fato, resultados significativos. Um exemplo seria a redução das filas para obtenção de cidadania ou de passaporte italiano. "Pontos práticos mesmo, como serviços consulares, em vez de melhorar, pioraram nos últimos anos", afirma Peron.


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