SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Autoridades iranianas anunciaram nesta sexta-feira (30) a detenção de cidadãos europeus no contexto dos protestos desencadeado pela morte de Mahsa Amini, uma jovem que foi detida pela polícia moral de Teerã por não usar corretamente o veu islâmico.
Entre os presos, chamados de encrenqueiros pelo governo, estão cidadãos da Alemanha, Polônia, Itália, França, Holanda e Suécia, segundo o Ministério do Interior, que informou ainda que eles foram detidos nos locais onde ocorriam os protestos ou quando estavam "planejando nos bastidores". Seus nomes não foram divulgados.
Desde o início das manifestações, as autoridades iranianas acusam forças estrangeiras, incluindo os Estados Unidos, de alimentar os protestos. Segundo o Irã, Washington se vale das manifestações para tentar desestabilizar o regime do aiatolá Ali Khamenei, de modo que as detenções desta sexta devem aumentar ainda mais a tensão entre o país do Oriente Médio e o Ocidente.
Multidões têm gritando slogans, pedido a queda do regime e enfrentado as forças de segurança nas 31 províncias do país, especialmente em grandes cidades como Teerã, Isfahan e Yazd, segundo a página de informações Iran Wire, de jornalistas iranianos no exterior. São os maiores protestos no Irã desde os atos contra um aumento no preço da gasolina em 2019.
Nesta sexta, homens armados abriram fogo contra uma delegacia de polícia em Zahedan (sudoeste), levando as forças de segurança a revidarem. Dezenove pessoas foram mortas, incluindo policiais, disse o governador da província à televisão estatal. Vinte ficaram feridos.
Na cidade de Ahvaz (sudoeste), as forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo para dispersar a multidão, que cantava slogans antigovernamentais, de acordo com um vídeo divulgado pela Iran International, uma televisão persa com sede em Londres.
Um clérigo iraniano pediu nesta sexta ação dura contra os manifestantes. "Nossa segurança é nosso privilégio distintivo. O povo iraniano exige a punição mais severa para esses desordeiros bárbaros", disse Mohammad Javad Haj Ali Akbari, líder das orações que são realizadas às sextas-feiras em Teerã.
Segundo a Anistia Internacional, até esta sexta ao menos 52 já morreram em decorrência dos protestos e centenas foram feridos. Além disso, outros grupos de direitos humanos afirmaram que dezenas de ativistas, estudantes e artistas foram detidos. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas afirmou no Twitter que soube da prisão de pelo menos 28 jornalistas.
Amini, uma jovem de 22 anos da cidade curda iraniana de Saqez, foi presa este mês pela polícia moral em Teerã por vestir trajes inadequados --os agentes são responsáveis por aplicar normas do rígido código de vestimenta da República Islâmica para mulheres.
Policiais alegaram que Amini sofreu um ataque cardíaco após ser detida e negaram que ela tenha sido agredida. Ativistas, no entanto, afirmam que a abordagem policial em casos do tipo tem sido violenta, muitas vezes com uso de espancamento contra as mulheres.
No Irã, após a Revolução de 1979, que abriu espaço para um regime teocrático, a lei passou a afirmar que mulheres são obrigadas a cobrir seus cabelos com o véu e usar roupas largas para encobrir o formato de seus corpos. Aquelas que descumprem a norma enfrentam repreensões públicas, multas e mesmo a prisão.
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