SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em um esforço do presidente francês, Emmanuel Macron, para retomar um papel de proa na diplomacia, 43 líderes europeus se reuniram nesta quinta-feira (6) em Praga, na República Tcheca, para a primeira reunião de um novo bloco de países do continente --a Comunidade Política Europeia ou EPC, na sigla em inglês.

Além de nações da União Europeia, o encontro contou com a presença do Reino Unido, da Turquia, da Ucrânia e mesmo dos rivais Armênia e Azerbaijão. Na pauta, emergências nas áreas de segurança e energia que impactam a região desde a invasão russa a Kiev. Não à toa, a tônica de apresentação do grupo foi demonstrar o isolamento de Moscou e de sua aliada de primeira hora Belarus.

A EPC reúne os 27 Estados-membros da UE, mais 17 países europeus. Dos 44 líderes previstos para o encontro, uma ausência de última hora foi a da dinamarquesa Mette Frederiksen --a primeira-ministra está envolvida em crises internas que resultaram na antecipação das eleições parlamentares.

"Trata-se de construir uma unidade estratégica. O objetivo é, acima de tudo, compartilhar a mesma leitura da situação que a Europa enfrenta, para construir também uma estratégia comum", disse Macron. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, reforçou que os integrantes "compartilham o mesmo continente e enfrentam os mesmos desafios".

A exclusão de Moscou da equação não foi apenas simbólica e terminou evidenciada nas palavras de Josep Borrell, chefe da política externa da UE. "A reunião é uma maneira de buscar uma nova ordem sem a Rússia", disse, acrescentando que o afastamento não é definitivo. "Não é porque não queremos que a Rússia seja parte da Europa, mas porque o presidente [Vladimir] Putin se retirou da comunidade europeia."

Para além da retórica diplomática polida, restaram por esclarecer os resultados concretos que mais essa "plataforma de coordenação política" europeia para tratar de temas de interesse comum poderá trazer.

A agenda desta quinta incluiu uma reunião geral, mesas setorizadas --para debater temas como paz e segurança, energia e clima, situação econômica e migração--, reuniões bilaterais e um jantar, sem declaração final, só uma chamada "foto de família" como prova de unidade.

Nos meandros dos bastidores, porém, discutia-se que tipo de unidade pode sair entre Turquia, Suécia e Finlândia, por exemplo --o presidente Recep Tayyp Erdogan mantém obstáculos à adesão de Estocolmo e Helsinque à aliança militar Otan. Ou entre Ancara e Grécia e Chipre, com quem também trava tensões.

Com efeito, em suas declarações no evento Erdogan indicou não mudar de posição em relação a esses assuntos. Sobre a Suécia, em referência a ativistas radicados em Estocolmo: "Enquanto organizações terroristas se manifestarem nas ruas e estiverem no Parlamento, nossa abordagem não será positiva". Sobre a Grécia: "Sua política é baseada em mentiras. Não temos o que discutir com eles".

Outro foco de questionamento está no convite a Armênia e Azerbaijão --que tentam negociar um acordo de paz após sucessivas acusações de quebras de um cessar-fogo e confrontos armados na fronteira-- e a Kosovo, país que aspira entrar na UE mas não é nem reconhecido por todos os seus membros.

A reunião em Praga se tornou, então, uma grande demonstração de solidariedade para um continente atolado em crises. O ucraniano Volodimir Zelenski, representado pelo premiê Denis Shmihal e mais uma vez falando por videoconferência, pediu aos líderes que transformem o novo grupo em uma "comunidade europeia de paz".

"Que hoje seja o ponto de partida. O ponto do qual a Europa e todo o mundo livre se moverão para garantir a paz para todos nós. É possível", afirmou, pedindo todos os esforços possíveis para acabar com a guerra.

Outro destaque foi a primeira-ministra britânica, Liz Truss, que, sob pressão interna depois de só um mês no cargo, subiu ao palco com líderes da UE --deixando esperanças de um restabelecimento das relações entre Bruxelas e Londres, em meio a impasses sobre acordos pós-brexit para a Irlanda do Norte.

Sobre Macron, a quem relativizou o apoio em sua campanha, Truss declarou após uma bilateral que ele "é um amigo". Depois de se encontrar com o anfitrião da cúpula, o primeiro-ministro tcheco Petr Fiala, ela ainda enfatizou seu engajamento e a importância "de democracias europeias com ideias semelhantes apresentarem uma frente unida contra a brutalidade de Putin".

Borrell, em um artigo antes da cúpula, disse que ainda era preciso esclarecer qual era a lógica central da EPC, a filiação final do grupo, como se dará seu relacionamento com a UE, como ela deve tomar decisões e até se deve ter um orçamento próprio. Um segundo encontro já está previsto, provavelmente na Moldova, atribulada vizinha ucraniana.

Enquanto isso, nesta sexta (7), os líderes dos 27 países da UE continuarão em Praga. Resta saber se a reunião do bloco conseguirá ser mais objetiva.


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