BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Vestidos de branco, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, se encontraram nesta terça-feira (1º) em Caracas, coroando a retomada das relações diplomáticas entre os dois vizinhos --em um momento em que o cenário internacional de certa forma se mostra favorável ao regime chavista.

Os países estavam formalmente rompidos desde 2019, quando Iván Duque decidiu reconhecer como chefe de Estado o líder opositor Juan Guaidó. A última cúpula bilateral ocorrera em 2016, em Puerto Ordaz, quando Juan Manuel Santos recebeu de Maduro apoio para as negociações de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Reaproximar-se da Venezuela se tornou promessa de campanha de Petro, eleito em junho último como o primeiro presidente de esquerda da Colômbia. O primeiro passo, logo após a posse, foi reabrir a embaixada em Caracas e deixar de reconhecer o governo paralelo. O segundo, reativar os principais postos fronteiriços.

Um encontro entre os dois era debatido há meses, mas frustrou-se em mais de uma ocasião, em meio a tentativas de Maduro de que Petro o ajudasse a pedir o fim das sanções internacionais à ditadura e a devolução de dissidentes exilados em Bogotá --o colombiano afirmou que os dois temas não seriam negociáveis.

Antes de embarcar para Caracas nesta terça, Petro afirmou que iria "encerrar os anos de vazio político entre os dois países". Segundo a Presidência, os líderes trataram de direitos humanos e imigração e da retomada das relações comerciais.

Dois dias após a confirmação da vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Brasil, a política latino-americana também foi abordada. "Ante o fascismo que avança em várias partes do mundo, que obriga os mais pobres a migrar, a enfrentar tiros e perigos, o progressismo se faz mais vigente", disse Petro em entrevista após a reunião. Maduro destacou a "obrigação de voltar a trabalhar pela integração regional".

O cenário internacional favorece o regime, em certa medida. Desde o início da Guerra na Ucrânia, os Estados Unidos sinalizaram que poderiam estar interessados em retomar a compra de petróleo da Venezuela e, nesse contexto, reduzir algumas das sanções contra aliados da ditadura.

Mesmo ainda reconhecendo oficialmente Guaidó como presidente interino, a realpolitik falou mais alto. O diretor para o hemisfério Ocidental e assessor especial da Casa Branca Juan González voou a Caracas em março e se encontrou com Maduro.

Embora ainda não tenham resultado em negócios na prática, as conversas continuam. Por parte de Washington, a sinalização é a de que algumas sanções irão cair, mas isso estaria condicionado a Maduro topar a retomada das negociações com a oposição no México, apresentando uma proposta de data das eleições previstas para 2024 --o diálogo foi interrompido quando o empresário chavista Alex Saab foi extraditado aos EUA.

Maduro também se encontra fortalecido, em relação a anos anteriores, internamente. Em primeiro lugar, porque não há consenso de que os nove partidos opositores irão reeleger, no próximo 5 de janeiro, Guaidó como líder da Assembleia Nacional. O órgão, eleito em 2015 no último pleito considerado legítimo no país, segue atuando como força paralela embora já tenha tido o mandato expirado oficialmente.

Alguns líderes se reuniram com representantes do governo dos EUA no Panamá recentemente para pedir que o apoio à Presidência interina de Guaidó acabe. Rumores de que ele perderia o suporte de Washington circularam em meios de comunicação internacionais e nos bastidores da política venezuelana.

O líder opositor, então, gravou um vídeo dizendo que o apoio dos EUA é a um mandato --ou seja, que até a eleição de 2024 ele estará à frente do país. Na sequência, num informe, o Departamento de Estado dos EUA afirmou que Washington "reconhece o presidente interino Juan Guaidó e apoia, junto aos partidos opositores, uma negociação que leve a uma saída dessa situação por meio de eleições livres".

Entre os antichavistas, parece haver um consenso, por enquanto, de que o movimento deve ser representado por um só nome na disputa. A iniciativa vem atraindo várias forças políticas e, na última quinta-feira (27), Guaidó respaldou a proposta de primárias numa expressiva passeata em Caracas.

A eleição de Lula também dá novo fôlego ao chavismo, de quem o brasileiro foi aliado no passado. O petista criticou mais de uma vez o fato de Jair Bolsonaro (PL) ter apoiado a autoproclamada Presidência de Guaidó e, criticado pelo rival pela proximidade com os regimes, afirmou que os destinos de ditaduras como as da Venezuela e da Nicarágua devem ser decididos pelas populações locais.

Do lado colombiano, Petro foi o primeiro líder latino-americano a felicitar o brasileiro. Em declaração à Folha de S.Paulo na véspera de sua posse, ele já afirmara que esperava que Lula vencesse.


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