SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de escolher "emergência climática", "lockdown" e "vax" como palavras do ano em 2019, 2020 e 2021, a editora do dicionário Oxford anunciou nesta segunda-feira (5) a expressão que, segundo o grupo britânico, resume o zeitgeist de 2022 -e ela é bem menos nobre que suas antecessoras.

A nova palavra do ano de Oxford é "modo goblin", gíria que foi definida pelo tradicional dicionário britânico como "um tipo de comportamento que é assumidamente autoindulgente, preguiçoso, desleixado ou ganancioso, tipicamente de um maneira que rejeita as normas ou expectativas sociais".

Exemplos bastante concretos captados nas redes sociais ou em reportagens da imprensa britânica ajudam a entender melhor do que se trata. Segundo o comunicado de Oxford, estar em "modo goblin" é "acordar às 2h da manhã e se arrastar para a cozinha vestindo nada além de uma camiseta comprida para fazer um lanche bizarro, como biscoito salgado com queijo derretido" ou, na palavras do jornal The Guardian, "passar o dia na cama maratonando uma série enquanto navega sem parar nas redes sociais e devora um saco de batatas fritas, saindo de casa de pijama e meias só para pegar uma Coca-Cola no bar da esquina".

"Modo goblin" surgiu como palavra do ano em um momento em que, pela primeira vez, a editora do dicionário Oxford fez uma votação aberta ao público. O envolvimento foi grande, com mais de 300 mil pessoas -93% do total- votando nessa expressão. O segundo e o terceiro colocados foram metaverse (metaverso) e #IStandWith (algo como #EuApoio).

A tradução literal de "modo goblin" para o português seria "modo duende", mas a expressão é pouco conhecida no Brasil. Citada pela primeira vez no Twitter em 2009, a gíria ganhou as redes sociais de falantes de inglês em fevereiro de 2022, após uma notícia falsa atribuída à celebridade Julia Fox, musa de Kanye West.

"Julia Fox se abre sobre seu relacionamento 'difícil' com Kanye West: 'Ele não gostava quando eu entrava no modo goblin", dizia o título da notícia, depois desmentida por Fox em sua conta no Instagram.

"Goblin mode" cresceu em popularidade nos meses seguintes, à medida que as restrições de bloqueio da Covid diminuíram em muitos países e as pessoas se aventuraram a sair de casa com mais regularidade.

"[A expressão] aparentemente capturou o humor predominante de indivíduos que rejeitaram a ideia de retornar à 'vida normal' ou se rebelaram contra os padrões estéticos cada vez mais inatingíveis e estilos de vida insustentáveis exibidos nas mídias sociais", diz o texto de divulgação da Oxford Languages, responsável pelo dicionário.

"Dado o ano que acabamos de vivenciar, o 'modo goblin' ressoa com todos nós estamos nos sentindo um pouco sobrecarregados neste momento. É um alívio reconhecer que nem sempre somos os 'eus' idealizados que nos encorajam a apresentar em nossos feeds do Instagram e do TikTok", disse Casper Grathwohl, o presidente da Oxford Languages, no comunicado.

Segundo ele, uma prova disso é a ascensão de plataformas como o BeReal, onde os usuários compartilham imagens de si mesmos sem edição, muitas vezes capturando momentos autoindulgentes no "modo goblin".

Em março, em uma reportagem sobre a viralização da gíria, a repórter de tecnologia do Guardian Kari Paul escreveu que o "modo goblin" "abraça os confortos da depravação" e se tornou mais popular devido ao terceiro ano da pandemia "e ao temor do início da Terceira Guerra Mundial".

Outros dicionários conhecidos divulgaram suas "palavras do ano" recentemente. Para o americano Merriam-Webster, é gaslighting, termo descrito como "manipulação psicológica de uma pessoa, geralmente por um longo período de tempo, o que faz com que a vítima questione a validade de seus próprios pensamentos".

Já o dicionário Collins elegeu "permacrise" a palavra de 2022 -o termo descreve a sensação de viver em um período prolongado de instabilidade e insegurança, explica a editora.


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