SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com a missão de superar a crise institucional que chegou ao ápice com a tentativa de golpe de Pedro Castillo, a nova presidente do Peru, Dina Boluarte, deve formar seu gabinete ministerial nos próximos dias. Os nomes anunciados permitirão sentir o pulso da orientação de seu governo e estimar as possibilidades de que o país viva enfim algum período de estabilidade política sob nova direção.

Nesta quinta-feira, Dina comentou especulações sobre eleições presidenciais antecipadas e disse que o pleito seria "democraticamente respeitável". Ela, porém, afirmou que deseja discutir com outras forças políticas para chegar a uma conclusão.

Castillo, por sua vez, foi transferido da Prefeitura de Lima, onde estava detido pela polícia, para a sede da Direção de Operações Especiais (Diroes) ?o mesmo centro em que está preso Alberto Fujimori, ditador que comandou o Peru de 1990 a 2000.

Ainda nesta quinta, a Justiça do país ordenou que ele fique preso preventivamente pelos próximos sete dias. A decisão foi tomada após solicitação do Ministério Público, que defende que a soltura do agora ex-presidente poderia atrapalhar as investigações contra ele.

Segundo o jornal El Comercio, o procurador Marco Huamán argumentou que a medida também ajudaria os investigadores a identificar quais outros funcionários públicos participaram da tentativa de golpe.

Até aqui, a primeira mulher presidente do Peru prometeu um tempo de trégua, um governo de unidade nacional e um "gabinete de todos os matizes". Prometeu ainda que cumprirá seu mandato integralmente, permanecendo no cargo até 28 de julho de 2026 ?o que a diferiria de quase todos os seus antecessores desde 2016, um retrato do nível de instabilidade do Peru dos últimos anos.

Dina, 60, foi uma das primeiras a chamar os atos de Castillo pelo nome na quarta-feira (7). "É um golpe que agrava a crise política e institucional, que a sociedade peruana terá que superar com estrito cumprimento da lei", escreveu em sua conta no Twitter.

Horas depois, chegava ao Congresso convocada pelo Legislativo para fazer o juramento que a consagrou como a nova ocupante da Casa de Pizarro, sede da Presidência do Peru.

Esta quarta começou a se desenhar como o dia mais tumultuado da história recente do Peru quando Castillo fez um pronunciamento à nação decretando estado de exceção e ordenando a dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições. Ao fazê-lo, o então ex-presidente distorceu suas prerrogativas previstas pela Constituição e, portanto, viu seu ato receber o rótulo de tentativa de golpe.

O Congresso, em tensão constante com o chefe do Executivo desde o início de seu mandato, na prática ignorou os desmandos de Castillo e deu prosseguimento à votação da terceira moção de vacância contra o líder populista ?uma espécie de processo de impeachment.

Até a véspera, tudo indicava que o presidente sobreviveria mais uma vez à tentativa de destituição, mas as medidas inconstitucionais que ele adotou horas antes inverteram o jogo. A moção de vacância foi aprovada com 101 votos a favor, 6 contra e 10 abstenções ?eram necessários 87 votos para a destituição.

A imprensa peruana, citando fontes policiais, afirma que o agora ex-presidente planejava deixar o país e fugir para o México. A medida, segundo o El Comercio, só não teria sido possível porque o comandante-geral e o chefe de Estado Maior da Polícia Nacional Peruana não aceitaram o golpe de Castillo e acionaram a equipe de segurança do próprio presidente.

A ordem, então, chegou ao motorista da van que transportava o líder peruano, que se desviou da rota prevista até a embaixada do México, conduzindo Castillo até as autoridades.

A informação, aliás, foi usada pelo Ministério Público nesta quinta para impedir a soltura de Castillo. Segundo os procuradores, se o ex-presidente fosse solto, ele poderia enfim buscar asilo na embaixada do país norte-americano.

Paralelamente, o presidente do México, Andrés Manuel Lopéz Obrador, disse nesta quinta que recebeu um telefonema de Castillo antes de o líder peruano ser detido. "Ele me disse que estava a caminho da embaixada, mas com certeza já haviam grampeado seu telefone", disse o mexicano em entrevista.

Mais cedo, em entrevista a uma rádio, o chanceler do México, Marcelo Ebrard, disse que seu país teria concedido asilo político a Castillo se o peruano o tivesse solicitado.

O presidente deposto permaneceu na Prefeitura de Lima por mais de sete horas. Ainda na noite de quarta, foi transferido junto com o ex-premiê Aníbal Torres para o quartel Los Cibeles, no distrito de Rimac e, de lá, partiu de helicóptero para a sede da Diroes.

Além do ditador Fujimori, pai de Keiko, a principal adversária de Castillo, derrotada na última eleição com cerca de 50 mil votos de diferença, outro ex-líder peruano ficou detido no mesmo centro. Ollanta Humala, que presidiu o país de 2011 a 2016, passou nove meses em prisão preventiva sob acusação de lavagem de dinheiro em escândalo envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht.


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