SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um líbio acusado pelos Estados Unidos de produzir e programar a bomba que explodiu um avião sobre a cidade escocesa de Lockerbie em 1988, matando 270 pessoas, foi entregue à custódia de autoridades americanas neste domingo (11).

O atentado terrorista foi o mais mortal já ocorrido em solo britânico e resultou ainda no pior desastre aéreo na história do Reino Unido. A ação, em 21 de dezembro de 1988, derrubou o voo 103 da Pan Am, que ia de Londres a Nova York. Todos os 259 a bordo do Boeing 747 morreram, de 21 nacionalidades, além de 11 pessoas em solo na cidade escocesa.

Abu Agila Mohammad Masoud Kheir Al-Marimi foi entregue aos EUA dois anos depois de o país anunciar seu indiciamento. Um funcionário do Departamento de Justiça disse que as audiências envolvendo o líbio ocorrerão em um tribunal federal em Washington ?a data ainda será confirmada.

Segundo o jornal The New York Times, há dois anos Masoud estava detido em uma prisão da Líbia por crimes não relacionados ao atentado. Não está claro, porém, se ele seguia preso e como os EUA conseguiram obter sua custódia. Uma fonte militar de Trípoli disse à agência Reuters que o suspeito foi levado pelo aeroporto da cidade de Misrata.

Em 1991, dois agentes da inteligência líbia foram acusados pelo atentado: Abdel Baset Ali al-Megrahi e Lamen Khalifa Fhimah. Na época, o governo líbio se recusou a enviá-los para os EUA, mas concordou com um julgamento na Holanda sob a lei escocesa.

Megrahi foi condenado em 2001, mas, por sofrer de câncer, acabou libertado pela Justiça escocesa em 2009, apesar de pressões contrárias do governo de Barack Obama. Ele morreu em 2012, em Trípoli. Fhimah, por sua vez, foi absolvido de todas as acusações, mas os promotores do caso sempre afirmaram que Megrahi não havia agido sozinho.

Em 2020, então, Washington abriu uma denúncia formal contra Masoud, destacando o fato de ele ter trabalhado com a fabricação de explosivos. Segundo as autoridades americanas, um dia antes do atentado, ele viajou para Malta, onde teria entregado aos outros suspeitos a mala com a bomba usada no ataque. Ainda no país europeu, Megrahi e Fhimah teriam pedido a ele que ajustasse o cronômetro do dispositivo para que a bomba explodisse enquanto o avião estivesse no ar.

Anos depois, o FBI obteve uma cópia de um depoimento dado pelo líbio à Justiça local quando ele ficou sob custódia das forças de segurança, em 2012. Na ocasião, segundo a versão da polícia federal americana, ele admitiu ter fabricado a bomba que derrubou o voo 103 da Pan Am e ter trabalhado com Megrahi e Fhimah na execução do atentado.

Ele também teria dito que seguiu ordens dos serviços de inteligência do país e que participou de outros planos semelhantes. Ainda de acordo com o FBI, no depoimento Masoud contou que o ditador Muammar Gaddafi ?assassinado em 2011 durante um levante popular? o agradeceu por ter atacado os EUA de forma bem-sucedida.

Um agente do FBI informou à Reuters que a investigação americana encontrou evidências que endossaram as confissões.mis

De acordo com a BBC, cinco anos atrás Masoud cumpria pena de prisão na Líbia por fabricação de bombas. No mês passado, houve relatos de que ele tinha sido sequestrado por um grupo de milícias, levando a especulações de que seria entregue às autoridades americanas para ser julgado.

O regime de Trípoli reconheceu oficialmente sua responsabilidade pelo atentado em 2003 e pagou US$ 2,7 bilhões de indenização aos familiares das vítimas.


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