SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os governos da Índia e da China confirmaram nesta terça (13) que houve uma nova escaramuça fronteiriça entre soldados dos dois países na sexta passada (9), trocaram acusações, mas buscaram evitar uma escalada na confrontação entre as potências nucleares.

Os indianos foram mais detalhistas, com o ministro da Defesa, Rajnath Singh, falando ao Parlamento sobre o episódio. "Essas escaramuças seguem ocorrendo, e não foi algo de maior importância", minimizou.

A oposição liderada pelo Partido do Congresso criticou o depoimento, afirmando que Singh foi impreciso ao dizer que o incidente "levou a ferimentos em ambos os lados". O ministro também disse que mantém o alerta militar vigente nas regiões de fronteira disputadas desde um episódio anterior, em 2020, quando pelo menos 20 indianos de 4 chineses morreram numa briga na região de Ladakh.

De lá para cá, foram deslocadas seis divisões do Exército para áreas sensíveis, assim como esquadrões com caças russos Su-30 e franceses Rafale, esses recentemente comprados. No setor de Assam, a defesa aérea foi acionada com um novo sistema russo S-400.

Chineses e indianos têm cerca de 3.500 km de fronteiras não demarcadas oficialmente. O incidente da sexta-feira ocorreu em Tangwan, que fica no estado indiano de Arunachal Pradesh, que a China considera parte da sua região do Tibete do Sul.

Em 1962, a ditadura comunista venceu uma guerra contra Nova Déli na região oeste da fronteira, mas as disputas seguem. Antes da crise de 2020, a última morte em combates isolados havia ocorrido em 1975.

Segundo Singh, "soldados chineses entraram ilegalmente em nosso território" e foram bloqueados. A China conta a mesma história com sinal invertido. "Nós exortamos o lado indiano a controlar e restringir suas forças de linha de frente, e a trabalhar com a China para manter a paz e a segurança", afirmou um porta-voz do Comando do Teatro Ocidental do Exército de Libertação Popular.

Já o porta-voz da chancelaria chinesa Wang Wenbin disse, em entrevista em Pequim, que a situação é "de forma geral, estável".

Tudo indica que a crise será contida, mas as desconfianças e motivações primárias, também. Segundo relatos da sempre alarmista mídia indiana, o incidente em Tangwan vem na esteira da militarização daquela região pelo lado chinês.

Cerca de 300 soldados, segundo o jornal Times of India, chegaram à região no começo do mês, e há obras de infraestrutura, como estradas e postos de controle, sendo feitas.

Saindo do cenário pontual, a Índia está ao lado dos Estados Unidos na Guerra Fria 2.0 contra a China, ainda que mantenha grande ambiguidade em nome de seus interesses, rejeitando as sanções contra a Rússia devido à Guerra da Ucrânia.

Nova Déli é cliente militar de Moscou desde a Guerra Fria, embora tenha variado seus fornecedores nos últimos anos. Mas quando o assunto é China, de resto a principal aliada de Vladimir Putin, ela está no time do presidente americano Joe Biden, mesmo sendo parceira de Pequim no grupo Brics.

É uma valsa que começou a ser dançada há décadas, mas que tomou nova forma com a saída americana do Afeganistão e com a transformação do Paquistão em um Estado dependente de Pequim. Islamabad é rival de Nova Déli desde que ambos os países foram criados na partilha da Índia Britânica, em 1947.

A volta ao poder em Cabul do Talibã, grupo que foi fomentado pelos serviços de inteligência paquistaneses nos anos 1990 justamente para ganhar um aliado anti-Índia a oeste, sugeriu aos indianos um maior controle da China em seu entorno estratégico.

Com isso, no teatro do Indo-Pacífico o governo do premiê Narendra Modi tem sido aliado de Washington, reforçando os laços no grupo Quad (que conta também com Austrália e Japão) e promovendo exercícios militares conjuntos.

Um dos mais recentes ocorreu no mês passado e foi justamente na região do Himalaia indiano, para treinar capacidade de ação em alta altitude. Um dos problemas para o controle da fronteira de lado a lado é justamente o fato de ela se estender por uma das áreas mais altas do mundo.


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