WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Os Estados Unidos recebem nesta semana dezenas de líderes de países africanos na Cúpula de Líderes EUA-África, em Washington. O evento é visto como uma tentativa de recuperar espaço diplomático em um continente com maciça presença chinesa e influências cada vez maiores de nações como Rússia, Turquia e Emirados Árabes Unidos.

O governo do Zimbábue, por exemplo, inaugurou em novembro a nova sede do Parlamento, um edifício luxuoso que custou cerca de US$ 140 milhões (R$ 754 milhões) em um dos países mais pobres do mundo. A construção foi presente da China. Também vieram de Pequim a construção da sede dos parlamentos de Moçambique, Maláui, Lesoto e Guiné-Bissau, além do palácio presidencial de Burundi. Sem falar nos bilhões em infraestrutura investidos pelo gigante asiático no continente africano.

O maior evento diplomático na capital americana desde a pandemia da Covid-19 tem parado a cidade com a presença de 49 líderes do continente africano, além do presidente Joe Biden, na reedição da cúpula criada em 2014 no governo Barack Obama.

Na pauta oficial estão as consequências da pandemia, mudanças climáticas, impactos da Guerra da Ucrânia, democracia, segurança, comércio e desenvolvimento, em fóruns, reuniões e um jantar de gala que ocorrem entre esta terça (13) e quinta (15). Mas é a presença chinesa na África o tema mais questionado.

Dados da Administração Geral de Alfândega da China mostram que o comércio entre o país de Xi Jinping com o continente africano chegou a US$ 254,3 bilhões de dólares no ano passado, recorde histórico. No mesmo ano, o volume de importações e exportações dos EUA com o continente foi de US$ 64,3 bilhões.

Além disso, a China tem dominado a infraestrutura africana por meio de financiamentos de estradas, ferrovias, portos, aeroportos, barragens e companhias de energia. Segundo a revista inglesa The Economist, 31% de todos projetos de infraestrutura no continente africano com valores acima dos US$ 50 milhões são financiados por empresas chinesas.

A Casa Branca desconversou em diferentes entrevistas coletivas desde a última semana quando questionada sobre o fator China na cúpula. "[O encontro] Será uma proposição positiva sobre a parceria dos EUA com a África. Não vai ser sobre outros países. Não será uma tentativa de comparar e contrastar. Em vez disso, será sobre a agenda positiva que os EUA devem levar a cabo com a África", disse o conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, nesta segunda (12).

A preocupação, porém, além de óbvia, consta na "Estratégia dos EUA para a África Subsaariana", documento oficial da Casa Branca publicado em agosto com as prioridades para a região.

O texto diz que a China "vê a região como um espaço importante para desafiar a ordem internacional baseada em regras, promover seus próprios interesses comerciais e geopolíticos, minar a transparência e a abertura e enfraquecer as relações dos EUA com os povos e governos africanos". Também cita a Rússia, que, para o governo Biden, "vê a região como um ambiente permissivo para empresas militares privadas e paraestatais, muitas vezes fomentando a instabilidade para benefício estratégico e financeiro."

Desde que assumiu o cargo, há dois anos, Biden foi apenas uma vez ao continente, em uma viagem relâmpago de três horas ao Egito para participar da conferência do clima COP27.

Agora, o presidente americano deve anunciar um apoio expresso para que a União Africana, fórum de 55 países do continente, ocupe um assento permanente no G20, grupo das maiores economias do mundo. Hoje, o único país africano no grupo é a África do Sul. O governo do democrata também pretende anunciar a liberação de US$ 55 bilhões em ajuda ao continente nos próximos três anos.

"Não queremos que ninguém nos diga 'não trabalhe com fulano, trabalhe apenas conosco.' Queremos fazer negócios com todo mundo", disse o presidente do Senegal, Macky Sall, que ocupa atualmente também a presidência da União Africana, ao New York Times.

Dos países que compõem a União Africana, não foram convidados Sudão, Mali, Guiné e Burkina Fasso, por terem sido suspensos da instituição após golpes de Estado, além da Eritreia, país do Chifre da África cujas relações com Washington estão fragilizadas.

Mas na lista de presença também constam personagens controversos. Há líderes de pelo menos três governos acusados de abusos de direitos humanos ou de crimes contra a humanidade: Abdul Fattah al-Sisi (Egito), Salva Kiir (Sudão do Sul) e Abiy Ahmed (Etiópia). Neste último, a guerra na região do Tigré já deixou cerca de 500 mil mortos, segundo estimativas.

O novo presidente do Quênia, William Ruto, também foi acusado pelo Tribunal Penal Internacional de crimes contra a humanidade ao liderar uma onda de violência no país que terminou com cerca de 1.500 mortos entre 2007 e 2008.

Também deve participar do evento na capital americana o ditador do Chade, Mahamat Déby, que assumiu o governo no ano passado após um golpe militar.

A Casa Branca justificou os convites dizendo que mostra o compromisso do governo "em manter conversas respeitosas mesmo onde há áreas de divergência", disse Molly Phee, secretária-assistente do Departamento de Estado para Assuntos da África.

Territórios que reivindicam reconhecimento internacional como o Saara Ocidental, no norte do continente, e a Somalilândia, que na prática é um estado nos limites da Somália, também ficaram de fora.


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