MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - França e Alemanha se preparam para apresentar uma "resposta agressiva" ao protecionismo americano encarnado na Lei de Redução da Inflação.

Nesta segunda-feira (19), os ministros da economia dos dois países anunciaram conjuntamente que buscam garantir a competitividade da Europa em relação aos Estados Unidos.

Para defender esses interesses, o titular das Finanças e Economia da França, Bruno Le Maire, e seu homólogo alemão, Robert Habeck, planejam uma viagem aos Estados Unidos em janeiro.

A legislação, chamado de "Lei de Redução da Inflação" pela imprensa americana, foi aprovada pelo Senado do país em agosto, em uma vitória para Joe Biden. Foi uma promessa de campanha do democrata e atinge as áreas de tributação, medicamentos e clima.

Neste último caso, prevê a injeção de US$ 369 bilhões (R$ 1,95 trilhão) em programas de energia e clima e o corte de emissões de gases de efeito estufa nos EUA, até o fim da década, para um nível 40% abaixo do patamar de 2005. Trata-se do maior investimento americano no setor climático na história.

Por outro lado, a lei determina uma série de protecionismos que vêm irritando as autoridades europeias no último mês. Por exemplo, dedução fiscal para a compra de um carro elétrico fabricado nos EUA, mas não para um carro europeu, medida que a UE considera contrária às regras do comércio internacional.

Biden quer impulsionar o setor de veículos elétricos para promover empregos no setor industrial, a transição energética e a concorrência tecnológica com a China. Outro ponto de conflito é o incentivo à produção doméstica de chips de computador e peças de energia renovável.

O pacote oferece, enfim, subsídios maciços para produtos sustentáveis fabricados nos EUA. Segundo líderes europeus, a lei prejudica injustamente as empresas não americanas e seria um duro golpe para suas economias enquanto a Europa lida com as consequências mais diretas da Guerra da Ucrânia.

O plano representaria uma ameaça direta a empregos europeus, em especial nas áreas de energia e automobilística. Em uma reunião com legisladores americanos na Biblioteca do Congresso, em 1º de dezembro, Macron disse que a lei era "superagressiva" e fez críticas abertas a ela.

"Não quero me tornar um mercado para produtos americanos porque tenho exatamente os mesmos produtos que vocês. Tenho uma classe média que precisa trabalhar e pessoas que precisam encontrar trabalho. Talvez vocês resolvam os problemas de vocês, mas vão piorar o meu", afirmou Macron, naquela visita aos EUA.

Dias depois, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen fez coro e disse que a UE precisaria agir para evitar que os investimentos sejam atraídos para o outro lado do Atlântico devido à lei.

"A Lei de Redução da Inflação deve nos fazer refletir sobre como podemos melhorar nossas estruturas de auxílio estatal e adaptá-las a um novo ambiente global", disse Von der Leyen em um discurso em Bruges, na Bélgica. Alguma resposta à iniciativa dos EUA é necessária, disse ela.

Assim, funcionários da Comissão têm tentado persuadir o governo Biden a ajustar o pacote para que as empresas da UE também possam se qualificar para a ajuda americana.

Em resposta às críticas, Biden disse que as novas leis nunca tiveram a intenção de excluir aliados europeus e podem, de fato, ser ajustadas. No entanto, ele não detalhou quais reparos poderiam ser feitos, e as opções legislativas podem ser escassas. Parece haver pouca vontade no Capitólio para reabrir projetos de lei altamente debatidos e aprovados há meses.

Para piorar, desde a aprovação, em agosto, os republicanos retomaram o controle da Câmara. E dificilmente tomarão medidas solicitadas pelo presidente democrata.

Em seu comunicado conjunto nesta segunda-feira, os ministros da França e da Alemanha prometeram novas medidas para apoiar as indústrias verdes da UE. "Vamos garantir que a indústria europeia tenha acesso a eletricidade acessível, segura e sustentável, para que possa permanecer competitiva globalmente", escreveram Le Maire e Habeck.


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