SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo da Alemanha escolheu um novo ministro da Defesa nesta terça (17) e informou que sua primeira decisão será acerca do fornecimento de tanques de guerra fabricados no país para a Ucrânia, que enfrenta a invasão da Rússia há quase 11 meses.
O social-democrata Boris Pistorius, um político local da Baixa Saxônia conhecido por ser um linha dura em questões de segurança e imigração, substituiu a muito criticada Christine Lambrecht, que renunciou na segunda.
"Há decisões importantes a serem tomadas no curto prazo, em particular a questão urgente de como nós vamos continuar a apoiar a Ucrânia em sua autodefesa", disse o ministro alemão Robert Habeck (Economia). "A Alemanha carrega a responsabilidade aqui e tem tarefas vitais a cumprir."
Lambrecht deixou uma lista de lavandeira substancial na área de defesa: o fracasso em aplicar de forma coordenada os EUR 100 bilhões aprovados pelo governo do premiê Olaf Scholz para o setor depois do início da guerra, a ineficácia das Forças Armadas e, mais urgente, a questão dos tanques.
Os alemães fabricam o Leopard-2, modelo mais amplamente utilizado na Europa -12 países do continente operam cerca de 2.500 unidades. Com o temor das nações de ver sua defesa comprometida com o envio de muitos carros de combate para Kiev, a solução mais lógica é que todos forneçam um número compatível com sua frota.
O presidente Volodimir Zelenski pediu 300 tanques para conter as ofensivas russas no leste do país, que tiveram alguns sucessos após uma série de derrotas. Uma análise publicada pelo IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, na sigla inglesa), de Londres, estima que 100 blindados do tipo já teriam impacto na linha defensiva.
Berlim precisa dar o OK para que outros países enviem a terceiros material bélico comprado de empresas alemãs. Essa parece a parte fácil, apesar de toda a hesitação do governo de Scholz. O premiê será questionado sobre isso nesta terça em Davos (Suíça), onde participa do Fórum Econômico Mundial.
Já a contribuição direta dos alemães é incógnita. Os candidatos naturais a fornecer mais blindados são países da Otan, o clube militar do Ocidente, ou seus aliados, com frotas maiores de Leopard-2 e mais próximos da área do conflito.
São eles postulante a membro da Otan Finlândia (200 tanques, 100 em estoque), e as integrantes do grupo Polônia (347) e Alemanha (376, 55 em estoques segundo o IISS, 22 segundo a fabricante Rheinmettal). Só que a própria fabricante disse que tanques em reserva na Alemanha precisariam de uma revisão e só poderiam ser entregues no começo de 2024, aumentando a pressão para emprego de blindados ativos.
Isso é polêmico não só pela redução na capacidade de defesa, mas também porque sugere um envolvimento mais direto do que Berlim gostaria na guerra. Desde o começo do conflito, o Ocidente vai subindo a barra das entregas pouco a pouco, para protestos de Moscou, que sempre que pode saca a carta do risco de um conflito nuclear com a Otan.
Por pressão dos americanos, que entregaram mais do que a metade dos US$ 40 bilhões enviados em armas e ajuda militar em 2022 para Kiev, isso tem mudado --embora haja tabus, como o fornecimento de aviões de combate. Washington, Berlim e Paris prometem entregar blindados leves e Londres anunciou a doação de um esquadrão de 14 tanques pesados Challenger-2.
Esse movimento britânico serviu para adicionar pressão sobre Berlim, como em outras ocasiões. Na sexta (20), tudo deverá ser decidido em um encontro da Otan na principal base americana na Alemanha, Ramstein. A depender do pacote anunciado, será possível estimar o impacto da medida na guerra.
Os russos até aqui só mantiveram a retórica de que os envios não mudarão o curso da atabalhoada operação militar no vizinho. O porta-voz do Kremlin afirmou que os Challenger-2 irão "arder nos campos" ucranianos, mas só.
O país de Vladimir Putin iniciou nesta terça o programa de aumento de suas Forças Armadas -que tinha 900 mil integrantes no começo de 2022, 10% a mais neste ano e, agora, chegar a 1,5 milhão de militares até 2026.
Segundo o Ministério da Defesa, a prioridade será o uso de soldados profissionais, sob contrato, e não conscritos. É uma forma de reduzir a impopularidade doméstica de medidas como a mobilização de 320 mil reservistas no fim do ano passado, que parece estar dando alguns frutos na frente de batalha.
O plano divulgado advoga uma reorganização estrutural, com a instalação de mais um corpo de exército, reposicionamento de divisões e a criação de dois serviços de integração de braços diferentes das Forças. Não foi divulgado o custo da iniciativa.
A falta de mão de obra, além de erros tático e problemas logísticos, custou a vitória que Moscou parecia prever em poucas semanas para a guerra. A insuficiência crônica de soldados levou ao emprego de mercenários em pontos da frente, como na atual campanha em Donetsk (leste). A mobilização, avaliam analistas, poderá mitigar os problemas deste semestre -mas a guerra parece cada vez mais um elemento perene da paisagem política europeia.
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