SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os relatos são quase sempre similares: em 31 de dezembro, 18 cubanos foram declarados desaparecidos no mar perto de Havana quando tentavam emigrar para os EUA. Dois dias antes, um cidadão da ilha morreu e outros 15 desapareceram em Matanzas, a leste da capital.
Casos como esses têm se multiplicado. A Organização Internacional para Migrações (OIM), braço da ONU, informou nesta terça-feira (24) que um número recorde de mortes e desaparecimentos de migrantes foi documentado em 2022 nos mares do Caribe: ao menos 321.
A cifra é a maior desde 2014, quando a OIM começou a documentar o fenômeno. No ano anterior, 2021, foram 180 mortos e desaparecidos. Já no acumulado desde o início da contagem, foram ao menos 1.329 vítimas na região. Somente em janeiro deste ano, foram 41.
A maior parte dos migrantes que morreram ou desapareceram era de Haiti (80), Cuba (69), República Dominicana (56) e Venezuela (25), nações que enfrentam graves crises sociais e econômicas, e a principal causa de morte são afogamentos provocados pelas difíceis condições climáticas na região e pela precária condição das embarcações.
Mais da metade das vítimas, porém, não puderam ser identificadas, informou a coordenadora regional da OIM para o Caribe, Patrice Quesada, em um comunicado. "Isso significa que centenas de famílias não têm informações sobre o paradeiro de seus entes queridos."
Historicamente, a principal rota migratória que observa a morte e o desaparecimento de migrantes é a que sai de Cuba com destino aos Estados Unidos --em 2022, foram 174 casos. Com a grave crise econômica na ilha, acentuada após a pandemia de coronavírus e a unificação das moedas nacionais, o êxodo de Cuba apresentou um salto que também pôde ser observado nas migrações com destino ao Brasil.
Outras rotas migratórias no mundo também denotam preocupação da ONU. A mais expressiva é a do Mediterrâneo, que desde 2014 registrou ao menos 25.413 mortes e desaparecimentos. Na sequência estão as que passam pela África, com 12.257, e, em terceiro lugar, aquelas que estão concentradas nas Américas, com pelo menos 7.253 desde o início do monitoramento.
Na região, a porção que mais chama a atenção está na fronteira dos EUA com o México, onde mais de 3.500 imigrantes morreram nos últimos dez anos, a maioria devido a condições climáticas extremas ou à falta de moradia, comida e água.
O governo de Joe Biden, a despeito de ter deixado para trás a retórica antimigração de seu antecessor, Donald Trump, manteve políticas colocadas em prática pelo republicano para expulsar migrantes que chegam à fronteira com o país vizinho.
Com o apoio do governo de Andrés Manuel López Obrador no México, Biden anunciou recentemente um pacote de medidas que facilita a expulsão de cidadãos de países como Cuba, Venezuela e Haiti.
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