EUA planejam quadruplicar presença militar em Taiwan para conter China
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Diante do aumento da tensão com a China, os Estados Unidos planejam aumentar em mais de quatro vezes o número de tropas em Taiwan para reforçar o treinamento de militares da ilha considerada rebelde por Pequim.
Os EUA pretendem enviar de 100 a 200 soldados para Taiwan nos próximos meses, segundo o jornal The Wall Street Journal. Há um ano, aproximadamente 30 militares americanos atuavam na ilha.
O plano faz parte de um esforço crescente de Washington para ajudar Taiwan a se preparar contra uma eventual invasão chinesa, disseram autoridades americanas sob a condição de anonimato. Pequim considera a ilha parte inalienável de seu território e frequentemente ameaça anexá-la com o uso da força, se necessário.
Na terça (21), Taiwan anunciou a pretensão de fortalecer a cooperação militar com os EUA e outras nações aliadas para confrontar o que chama de "expansionismo autoritário" da China. A declaração foi feita pela presidente da ilha, Tsai Ing-wen, que não detalhou o tipo de intercâmbio militar a que se referia.
A expansão da presença militar americana em Taiwan vem sendo arquitetada há meses. Mas o plano passou a ser priorizado nos últimos dias após o início de uma nova crise diplomática entre EUA e China desencadeada pela descoberta de um balão chinês sobrevoando o território americano.
O objeto foi derrubado por um caça no início do mês, em ação considerada exagerada por Pequim. Washington afirma que o objeto é um instrumento de espionagem, enquanto Pequim diz que o artefato, derrubado por um caça, é um equipamento de pesquisas, sobretudo meteorológicas.
À agência de notícias Reuters, o Pentágono não confirmou a intenção de expandir o número de militares em Taiwan, mas reiterou o apoio à ilha com críticas a Pequim. "Não temos comentários sobre operações, engajamentos ou treinamento específicos, mas destacamos que nosso apoio e relacionamento de defesa com Taiwan continua alinhado contra a atual ameaça representada pela República Popular da China", informou a pasta.
Já o regime chinês não esconde o incômodo com o aumento de parcerias entre EUA e Taiwan, acusando Washington de minar seu compromisso de manter relações não oficiais com Taipé.
Como a maior parte da comunidade internacional, Washington não mantêm laços diplomáticos formais com Taiwan. A ilha viveu sob influência chinesa até 1949, quando os nacionalistas derrotados pelos comunistas durante a guerra civil no país fugiram para o território e ali forjaram um governo capitalista.
Ainda assim, os americanos continuam sendo o maior aliado estrangeiro de Taiwan --além de principal fornecedor de armas. As duas administrações vêm se aproximando recentemente, período em que o regime chinês passou a pressionar a ilha para aceitar o domínio do continente sobre o seu território.
O elo com Washington é uma fonte constante de tensão nas relações sino-americanas --já bem abaladas nos últimos anos por fatores que vão do cerco comercial dos EUA a empresas de tecnologia chinesas à expansão militar americana no Sudeste Asiático.
As rusgas se intensificaram com a visita de Nancy Pelosi, então presidente da Câmara e mais alta autoridade do país a viajar à ilha em 25 anos, em agosto. A China respondeu à visita realizando o seu maior exercício militar no estreito que a separa de Taiwan. Desde então, a ditadura tem mantido atividades militares quase diárias ao redor da ilha.
Outro fator que evidenciou o distanciamento de Washington e Pequim foi a visita do chefe da diplomacia chinesa, Wang Li, ao presidente Vladimir Putin. Após o encontro, o líder russo disse que o elo com a China estavam "alcançando novos horizontes".