SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mulheres vestidas de aias têm engrossado os protestos das últimas semanas contra a reforma judicial e a coalização ultradireitista que governa Israel. Com capas vermelhas e uma espécie de chapéu branco, elas se manifestaram caracterizadas como personagens da série "The Handmaid's Tale", uma distopia sobre um país tomado pelo ultraconservadorismo.

Na oitava semana consecutiva de protestos, milhares de pessoas tomaram as ruas em várias cidades do país. Segundo a emissora israelense Canal 12, cerca de 100 mil aderiram aos atos neste sábado em Tel Aviv, 30 mil na cidade de Haifa e outras milhares em outros locais.

Principais vias de grandes cidades foram fechadas pela polícia para a organização de comícios. Vários políticos da oposição engrossaram os atos. Os manifestantes mostravam cartazes com mensagens críticas ao governo do premiê Binyamin Netanyahu: "Sem Constituição, sem democracia", "Eles não passarão" e "Nós os substituiremos".

Protestos em Israel são frequentes desde que governo apresentou proposta para limitar os poderes do Judiciário e ampliar os do Legislativo. Na prática, o projeto daria superpoderes ao premiê Netanyahu e a seus aliados. Críticos dizem que a reforma enfraquecerá a democracia.

Na última quarta (22), o Knesset, Parlamento israelense, avançou na discussão pela aprovação da reforma. Os parlamentares aprovaram em primeira votação uma proposta que permite incluir, na maior parte dos projetos de lei, uma cláusula que impede a Justiça de revisar o texto em questão. O texto ainda deve passar por mais duas votações.

As manifestantes que se caracterizaram como aias veem na reforma o avanço do conservadorismo na administração mais à direita da história de Israel e com ministros extremistas. Também consideram que a projeto vai impedir a Suprema Corte de proteger os direitos das mulheres.

De acordo com o jornal israelense The Times of Israel, Netanyahu acusou os adversários políticos e manifestantes de tentarem uma "anarquia no país". Já o líder da oposição, Yair Lapid, disse que, com a declaração, o governo incita a violência dividindo a nação.

Netanyahu argumenta que a mudança é necessária para tirar a Justiça das mãos de "magistrados elitistas e tendenciosos". Para opositores, o plano mina a independência do Judiciário, enfraquecendo o equilíbrio de Poderes. Israel não tem uma Constituição escrita, e como os governos quase sempre têm maioria no Parlamento, o Executivo e o Legislativo tendem a atuar em sincronia em vez de trabalharem como contrapesos.

No mês passado, a presidente da Suprema Corte de Israel, Esther Hayut, afirmou que a reforma judicial proposta pelo governo pode representar um "golpe fatal" contra a independência dos magistrados.

O governo Netanyahu tem sido criticado também por líderes de outros países. Além da reforma, ele é criticado por e expandir os assentamentos na Cisjordânia num momento de tensão crescente na região.


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