SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Digamos, para simplificar: Joe Biden não chamará à razão o premiê Binyamin Netanyahu, que prosseguirá com sua insana reforma do Judiciário. Deu-lhe só um pequeno puxão de orelha, quando o secretário de Estado, Antony Blinken, visitou Israel.

Ao mesmo tempo, é impossível dizer se os palestinos estão à beira de uma imensa rebelião, que não será desta vez controlada pela enfraquecida Autoridade Nacional chefiada por Mahmoud Abbas.

Eis em resumo o que disse o analista Natan Sachs, chefe do departamento de Oriente Médio da Brookings Institution, centro de estudos sediado em Washington. Ele comentou em podcast a viagem de Blinken e não deu a ela nenhuma tonalidade conclusiva. Não se sabe o que irá acontecer.

Essa cautela contrasta com a ideia preconceituosa de que Israel faz aquilo que os EUA pedem em troca de acordos militares e da proteção diplomática ao país, pouco importa a cor política de seu governo.

O secretário de Estado desta vez excepcionalmente opinou sobre questões internas israelenses, como a reforma do Judiciário, que põe a Suprema Corte um degrau abaixo do Parlamento, o Knesset, submetendo-a a ele. O ideal, disse Blinken, seria que questões da estrutura do Estado sejam só deliberadas por meio de projetos consensuais entre os grupos políticos do país --posição também defendida pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin, em visita a Tel Aviv nesta quinta-feira (9).

"Não é o caso. E a prova são as crescentes manifestações anti-Netanyahu", diz o cientista político, evocando a paixão despertada pelos que se opõem à iniciativa do governo.

Além disso, diz Sachs, se provocar o desequilíbrio entre os poderes, Israel não apenas machucará sua democracia, como também tornará vulneráveis governantes que evocam decisões da Suprema Corte para se proteger de acusações de transgressões de direitos humanos em territórios palestinos na Cisjordânia ou em Gaza.

Em suma, Blinken deu o recado do presidente Biden sobre a imprudência de mexer com o Judiciário sem que os demais partidos estejam de acordo.

Para o cientista político, o gabinete de ultradireita que Netanyahu agora chefia tem ministros que pensam que só devem satisfação só a seus eleitores, não à população como um todo.

Ele cita dois nomes, os ministros das Finanças e da Segurança Nacional, Bezaliel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, respectivamente. São conservadores extremistas, com o agravante de Ben-Gvir se dizer discípulo do rabino Meir Kahane, que morreu assassinado em 1990 e chefiava um grupo considerado terrorista pelos governos de Israel e EUA. Kahane defendia a eliminação dos palestinos.

Blinken, na visão de Sachs, reiterou em Israel, para dirigentes com os ouvidos entupidos, a tese de Washington de que a paz na região virá apenas com a adoção de dois Estados que convivam em harmonia. Abbas, com quem o americano também se reuniu, não acredita --com razão-- que o atual governo de Israel caminhe nessa direção.

Em verdade, declarou Blinken -e é algo que Sachs sublinha como importante- não apenas se caminha na direção oposta, a preservação de um só Estado, mas também "estamos assistindo agora, para os palestinos, a um visível encolhimento de horizontes".

É um diagnóstico de uma intensidade raramente vista ao longo da história de Israel e das complicadas relações entre judeus e seus vizinhos árabes.

O caldeirão da crise aguda está borbulhando, e o diretor da Brookings não evoca apenas explosões em Gaza, onde o grupo radical Hamas detém o poder político, mas na Cisjordânia, onde a Autoridade Nacional Palestina, politicamente desnorteada, está em vias de perder a iniciativa e o controle.

A liderança palestina não tem em mãos os meios para traçar com base em cenários políticos previsíveis a sucessão de Abbas, um homem doente que estará completando 88 anos neste mês.

Estamos numa época em que tudo é possível, diz Sachs, inclusive os planos de extremistas das colônias judaicas na Cisjordânia que planejaram invadir e ocupar aldeias e cidades palestinas que lhes são vizinhas.

O governo americano não desconhece o perigo de um quadro que pode espoucar de muitos lados ao mesmo tempo. Tanto que Blinken deixou em Israel dois assessores de confiança para informá-lo ou intervir em nome dele em caso de emergência.

Esses diplomatas são de um escalão superior. Barbara Leaf é secretária de Estado assistente, e Hady Amr vem logo abaixo na hierarquia. Ambos sabem que as primeiras semanas do ano já foram bem sangrentas e que nada, até agora, parece indicar um caminho na direção contrária.

HOW IS THE US WEIGHING IN WITH ISRAEL?S NEW HARDLINE GOVERNMENT?

Autor: Brookings Institution

Link: https://www.brookings.edu/podcast-episode/how-is-the-us-weighing-in-with-israels-new-hardline-government/

Duração: 19 min.


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