SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Já são dez mil toneladas de lixo acumuladas nas ruas de Paris desde que os garis entraram em greve contra a impopular reforma da Previdência do presidente liberal Emmanuel Macron. O cálculo é da prefeitura da capital francesa.
Os garis estão em greve desde segunda-feira (6), e houve bloqueio dos incineradores da cidade.
Lixeiras transbordam e pilhas de saco impedem a passagem dos pedestres. As calçadas do Grands Boulevards, avenida que reúne importantes lojas de departamentos como a luxuosa Galerie Laffayete, agora estão cercadas de lixo.
REFORMA DA PREVIDÊNCIA
A reforma da Previdência foi aprovada sem votação no Congresso francês e vai aumentar a idade mínima legal para a aposentadoria, passando de 62 para 64 anos. Também muda as regras para que o pensionista possa ter sua aposentadoria integral.
O governo recorreu ao artigo 49.3 da Constituição para dar a "canetada". E a Secretaria da Segurança Pública obrigou os garis a voltarem ao trabalho ?mas a categoria mantém firme a mobilização.
Uma pesquisa de opinião feita em fevereiro aponta que 69% dos franceses são contrários à reforma.
Os trabalhadores da limpeza pública exigem diálogo com o governo, que permanece inflexível a qualquer tipo de negociação.
PROTESTOS
Neste sábado (18), novamente foram registrados protestos em toda a França, que reuniram milhares de pessoas de forma espontânea ou sob convocação de centrais sindicais.
Em Paris e em Nantes, manifestantes queimaram lixeiras e entraram em confronto com a polícia ?76 pessoas foram presas.
O medo da radicalização levou as autoridades a proibirem qualquer aglomeração na região da praça da Concórdia, próxima à Assembleia de deputados, no centro de Paris.
LIXO AFETA RESTAURANTES E COMÉRCIO
Nas margens do rio Sena, o lixo bloqueia a vista da Notre-Dame. Para contemplar a famosa catedral, é preciso alguma capacidade de abstração.
Os turistas querem ver a Torre Eiffel da impressionante Esplanada do Trocadero, mas, quando saem do metrô, primeiro devem passar por um muro de sacolas plásticas.
No centro, as outrora românticas vielas estão repletas de caixas e de papelão, às vezes com comida estragada.
O acúmulo de lixo mudou os hábitos até nos tradicionais cafés de Paris.
"As pessoas não querem mais ficar no terraço. Ainda mais que choveu, e as caixas de papelão derreteram e viraram uma pasta de papel no chão", conta Estelle Guillerm, a gerente de um café.
"Não é possível [suportar] isso quando você sai para comer em um restaurante", diz Michaël, maitre do restaurante Bouillon Chartier, que costuma servir 1.700 refeições por dia.
Martin Ruiz, um americano de 18 anos, lamenta o cheiro: "É nojento".
Diretora de uma butique de roupas, Johana Marciano reclama da "imagem catastrófica de Paris" diante dos clientes estrangeiros.
"Eu nunca vi isso", diz uma canadense, atônita.
"É terrível, há ratos e ratazanas", declarou Romain Gaia, um confeiteiro de 36 anos. "Mas eles têm toda a razão de fazer greve", afirma. "São pessoas que normalmente não têm nenhum poder, mas se deixarem de trabalhar, têm um poder real." (Com agências internacionais)
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