TOULOUSE, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Menos numerosa e menos violenta, a 10ª jornada de greves e manifestações contra a impopular reforma da Previdência de Emmanuel Macron reuniu ao menos 750 mil pessoas em cerca de 200 cidades da França nesta terça-feira (28), segundo o Ministério do Interior. Na última quinta, havia 1 milhão nas ruas.

Segundo a junta intersindical que articula os protestos desde janeiro e já convocou nova mobilização para 6 de abril, esta jornada mobilizou 2 milhões de pessoas, contra 3,5 milhões na semana passada.

Os protestos foram marcados por uma grande presença policial, incrementada depois dos incêndios e da depredação de lojas e do mobiliário público vistos na manifestação da semana passada. O ministro do Interior, Gérard Darmanin, convocou 13 mil oficiais para acompanhar os atos desta terça -um aparato, segundo ele, inédito.

Ele informou que as forças de segurança francesas haviam identificado cerca de mil manifestantes responsáveis pelo quebra-quebra da semana passada, que levou comerciantes e agências bancárias a erguerem tapumes para proteger suas vitrines e fachadas.

Mesmo assim, a jornada desta terça não foi livre de conflitos significativos, como aqueles ocorridos em Paris, Toulouse, Rennes, Lyon, Estrasburgo, Bordeaux e Nantes, em especial depois que as lideranças sindicais deram os atos como encerrados, e as ruas foram tomadas por estudantes e black blocs.

Em Nantes, uma agência bancária foi incendiada por manifestantes, que ergueram barricadas igualmente incendiadas. Em Toulouse, fogo foi ateado a sacos de lixo e ao mobiliário urbano, e a polícia usou jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes --recursos também utilizados pelas forças policiais em Rennes.

Em Paris, a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e o Palácio de Versailles --alguns dos principais cartões-postais da capital francesa-- foram fechados devido às manifestações, que reuniram 93 mil pessoas, segundo a prefeitura, contra 119 mil na semana passada. Os atos na capital terminaram no início da noite, na Praça da Nação, com enfrentamentos entre black blocs e policiais, fogo nas pilhas de lixo, bombas de gás lacrimogêneo e ao menos 55 pessoas presas.

As cerca de 10 toneladas de lixo que transformaram a cidade-luz em um lixão a céu aberto e viraram fogueiras nos últimos protestos, no entanto, devem desaparecer nos próximos dias. Isso porque a CGT (Confederação Geral do Trabalho) anunciou o fim da greve dos garis da capital, depois de três semanas de paralisação. Os coletores voltam ao trabalho nesta quarta-feira (29).

Nos últimos dias, lideranças sindicalistas propuseram ao governo francês medidas para arrefecer os ânimos dos manifestantes do país. Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) propôs a Macron colocar a reforma "em pausa" por um ou dois meses e buscar interlocutores para uma mediação da crise política e social francesa. "Precisamos encontrar uma saída", disse ele à rádio France Inter. "A ideia é entrar em um processo de mediação."

A proposta foi bem recebida por partidos centristas, como o Movimento Democrático, cujo líder, Jean-Paul Mattei, declarou ser importante encontrar alguém que "tenha certa distância" dos dois polos da crise, governo e manifestantes, e possa ser um "elo para promover o diálogo".

O porta-voz do governo, Olivier Véran, recusou publicamente a proposta de mediação: "Não há necessidade de mediação para se falar com os sindicatos". Mas a primeira-ministra Elisabeth Borne, anunciou que convidará as lideranças da junta intersindical para uma conversa na próxima semana.

Nesse contexto de crise política e social, a popularidade do presidente Macron desceu abaixo da marca dos 30% e chegou a um nível considerado alarmante: 28%, segundo o barômetro do Instituto Francês de Pesquisa de Opinião (Ifop). A marca está próxima da mais baixa da história do líder francês, 26%, atingida em novembro de 2018, durante a crise dos coletes amarelos. Borne o acompanhou nesta baixa: sua popularidade chegou a 29%, segundo o mesmo instituto.


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