SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, protagonizou nesta terça-feira (28) uma rara desavença pública com os Estados Unidos ao retrucar um comentário crítico de Joe Biden sobre sua ofensiva contra o Judiciário.

Washington vinha censurando de forma discreta a reforma judicial promovida pela coalizão mais à direita a governar o país, considerada uma ameaça o equilíbrio dos Três Poderes. Na segunda, quando Netanyahu anunciou um recuo estratégico do plano após um dia de mobilizações históricas em Tel Aviv e Jerusalém, a Casa Branca saudou a decisão do premiê com entusiasmo.

Mas ao falar com repórteres sobre o tema, Biden foi mais direto do que o usual --disse que esperava que o governo do Oriente Médio abandonasse de todo a reforma judicial.

"Como muitos dos grandes apoiadores de Israel, estou muito preocupado. Eles não podem seguir por esse caminho. Deixei isso claro de certa maneira. Tenho esperança de que o primeiro-ministro vá agir de modo a alcançar um verdadeiro consenso. Veremos", disse o democrata.

Bibi, como o premiê é conhecido, respondeu ao comentário horas depois, por meio de um comunicado. "Israel é um país soberano e toma suas decisões segundo os desejos de sua população e não com base em pressões externas, inclusive quando elas vêm de seus melhores amigos", disse.

A troca de farpas deixa às claras um embate diplomático limitado aos bastidores nas últimas semanas.

Até aqui, o momento em que a pressão americana tinha estado mais visível fora um telefonema de Biden para Netanyahu há cerca de dez dias. A conversa fez o primeiro-ministro anunciar uma versão mais branda --mas não menos problemática, segundo a oposição-- de um dos pontos mais polêmicos de sua reforma judicial. O projeto de lei em questão prevê que o governo tenha poder quase absoluto sobre a indicação de juízes, inclusive para a Suprema Corte.

Nesta quarta-feira, Netanyahu voltou a defender explicitamente sua reforma na Cúpula pela Democracia, evento virtual organizado pelos EUA que tem como objetivo "renovar democracias por dentro e confrontar autocracias de fora". Em seu discurso, o premiê evocou o argumento de seus correligionários de que ela é necessária para tirar a Justiça das mãos de "magistrados elitistas e tendenciosos".

Ao mesmo tempo, reforçou que as negociações com a oposição estão em curso, e buscam alcançar um "amplo consenso nacional". "Acredito que isso seja possível. Estamos agora justamente envolvidos nessa conversa", disse.

Partidos contrários à reforma parecem menos certos disso, embora estivessem presentes na negociação mediada pelo presidente Isaac Herzog na terça-feira. Eles acusam Netanyahu, que enfrenta três julgamentos de corrupção, de se promover um enfraquecimento do Judiciário para se livrar de suas acusações. Ele nega.

Yair Lapid, ex-primeiro ministro e hoje líder da oposição de centro, aproveitou para atacar Bibi pela rusga pública com Biden. "Por décadas, Israel foi o aliado mais próximo dos Estados Unidos. O governo mais extremo do país arruinou isso em três meses."


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