WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - No primeiro discurso público após se tornar o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos réu por uma acusação criminal, Donald Trump voltou a se defender das acusações alegando que a promotoria de Nova York age de maneira política e tentou se proteger de outras investigações criminais de que é alvo.

Trump falou na noite desta terça (4) a um auditório lotado em seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida, após voltar de Nova York. "Nunca imaginei que algo assim aconteceria nos EUA. O único crime que cometi é defender sem medo nossa nação", afirmou.

O ex-presidente atacou o promotor do caso, Alvin Bragg, e o chamou de criminoso por vazar informações da investigação. Também atacou o juiz do caso, Juan Merchan, e citou até a filha do magistrado, que, segundo ele, trabalhou na campanha de Kamala Harris.

Trump citou ainda outras investigações que avançam e que podem indiciá-lo. Ele chamou de "farsa das caixas" a investigação que apura os documentos ultrassecretos que levou da Presidência para sua casa na Flórida e chamou de "ilegal e inconstitucional" a operação do FBI que aprendeu os documentos em Mar-a-Lago. O Departamento de Justiça e o FBI reuniram evidências de que Trump praticou obstrução da Justiça, segundo o jornal The Washington Post. Trump nesta chamou o conselheiro especial Jack Smith, que supervisiona seu caso no governo federal, de "lunático."

O ex-presidente também atacou a investigação de fraude eleitoral na Geórgia, estado em que perdeu para Joe Biden. Ele ligou para o secretário de Estado local, responsável pelo controle do pleito, e o pressionou expressamente: "Tudo o que quero é isso: encontrar 11.780 votos, um a mais do que temos [de diferença]. Porque nós ganhamos a Geórgia". Houve três contagens de votos que confirmaram a vitória de Biden no estado. "Nada do que eu disse foi errado", disse ele nesta terça, afirmando que se trata de um "caso falso" para interferir na eleição de 2024.

Trump aproveitou para abrir fogo contra Biden, citando a inflação recorde do país, o que chamou de "fronteiras abertas" que permitem a entrada de imigrantes em situação irregular no país e a retirada de tropas do Afeganistão, considerada desastrosa. Afirmou que, sob Biden, "uma Terceira Guerra Mundial nuclear pode acontecer".

O ex-presidente se apresentou à Justiça em Nova York no começo da tarde desta terça-feira, onde ouviu as 34 acusações de que é alvo por falsificação de registros comerciais e negou todas.

O caso que envolve a compra do silêncio de três pessoas durante a eleição de 2016. Duas delas são mulheres que alegam ter tido um affair com ele, a atriz pornô Stormy Daniels e a ex-modelo da Playboy Karen McDougal, segundo a imprensa americana. Daniels recebeu US$ 130 mil (R$ 659 mil) e McDougal, US$ 150 mil (R$ 761,4 mil). A terceira pessoa, que recebeu US$ 30 mil, é um porteiro da Trump Tower que afirmava que o republicano teve um filho fora do casamento. Eles teriam recebido o dinheiro de advogados do então candidato, e os gastos foram lançados como "despesas jurídicas", o que seria uma maquiagem de gastos de campanha, segundo investigações.

Trump já arrecadou US$ 10 milhões (R$ 50,7 milhões) em doações de apoiadores desde que o indiciamento veio a público, na última semana, segundo a equipe do republicano.

Pesquisa da CNN americana divulgada na segunda-feira (3) apontou que 60% dos americanos aprovam o indiciamento. Apesar disso, 76% afirmam que a decisão da Justiça teve algum componente político --sendo que, para 52%, a política ocupou um espaço central.


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