SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, se emocionou nesta quarta-feira (5) na despedida do parlamento de seu país em um discurso com trechos bastante pessoais e uma mensagem de encorajamento para todo tipo de pessoa entrar na política.

"Achei que precisaria mudar drasticamente para sobreviver. Mas eu não mudei", disse ela. "Deixo este lugar tão sensível quanto antes."

"Você pode ser ansioso, sensível, gentil e mostrar o que sente. Você pode ser mãe, ou não, um ex-mórmon, ou não, uma nerd, uma chorona, pode ser carinhoso. Você pode ser todas essas coisas, e não apenas estar aqui --mas liderar, assim como eu", afirmou Jacinda, antes de finalizar seu discurso com a voz embargada.

Em janeiro, a ex-premiê abriu mão de tentar a reeleição para o que seria seu terceiro mandato e comunicou sua renúncia. O anúncio surpreendeu os admiradores internacionais que ela conquistou ao longo de cinco anos no poder, mas não chegou a ser imprevisível internamente.

Quando se tornou primeira-ministra, em 2017, ela ganhou destaque por ser a chefe de Executivo mais jovem do mundo à época. Suas promessas, como ela lembrou no discurso desta quarta, giravam em torno de três temas principais: mudança climática, pobreza infantil e desigualdade. As suas prioridades, diz ela, não mudaram apesar dos percalços em seu mandato.

"Eu me acostumei com meu tempo como primeira-ministra sendo usado em uma lista diferente: um ataque terrorista doméstico, uma erupção vulcânica, uma pandemia", afirmou.

Em 2019, Jacinda se colocou em destaque com a resposta ao massacre de 51 pessoas por um extremista em duas mesquitas na cidade de Christchurch --na época, o país agiu para banir armas semiautomáticas. No mesmo ano, a premiê precisou ainda lidar com a erupção do vulcão White Island, que matou 21 pessoas.

A projeção de sua imagem internacionalmente aumentou ainda mais em 2020, quando manteve posições duras nas medidas de combate ao coronavírus --a Nova Zelândia teve uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo durante a crise sanitária.

O avanço nas suas principais pautas, porém, ficou limitado. Nesta semana, segundo o jornal britânico The Guardian, a Nova Zelândia anunciou a primeira queda trimestral nas emissões de gases de efeito estufa, após vários aumentos. Já a pobreza infantil diminuiu apenas alguns pontos desde o início de seu mandato, a crise imobiliária se manteve e a criminalidade registrou aumento marginal.

Sondagem de dezembro pela Kantar One News Polling apontou que só 29% da população escolheria Jacinda para ocupar o cargo mais uma vez --dias antes do pleito de outubro de 2020, quando foi reeleita com uma margem histórica, esse índice era de 55%.

Embora ainda estivesse seis pontos à frente de seu principal opositor, Christopher Luxon, um levantamento paralelo indicou que a aprovação de seu Partido Trabalhista já estava abaixo da do Partido Nacional --agremiação de centro-direita que governava o país antes de sua vitória. Esses resultados dispararam os rumores de que ela poderia renunciar, por mais que ao longo do último mandato não tivesse ajudado a construir um sucessor viável.

"Eu sei o que esse trabalho exige. E sei que não tenho mais a energia necessária para fazê-lo da melhor forma. É simples", afirmou ela ao anunciar sua saída. Ela foi sucedida pelo também trabalhista Chris Hipkins, que teve papel preponderante na gestão da Covid na Nova Zelândia e vai liderar o partido nas eleições legislativas marcadas para outubro.

Na terça-feira (4), ele nomeou Jacinda para um papel não remunerado no combate ao extremismo online em uma organização criada após o ataque de Christchurch. A ex-premiê disse estar ansiosa para trabalhar na desradicalização.


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