SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Rússia estão conversando sobre uma possível troca do repórter do Wall Street Journal Evan Gerchkovitch por um prisioneiro russo no país americano, afirmou nesta quinta-feira (13) o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Riabkov.
"Quanto a uma troca, temos um canal especial para isso, e os serviços especiais têm tratado do assunto e continuarão a fazê-lo", afirmou Riabkov à agência de notícias russa Tass. O trâmite, porém, só poderia ser realizado após o julgamento, acrescentou ele. Os países tratam ainda do caso de outro cidadão americano, Paul Whelan, condenado na Rússia por espionagem, afirmou o vice-ministro.
Gerchkovitch, um jornalista americano de origem russa de 31 anos, foi detido pelo FSB (Serviço Federal de Segurança) da Rússia no final de março sob a acusação de espionar segredos militares para Washington. Ele foi o primeiro jornalista americano detido na Rússia por acusações de espionagem desde o fim da Guerra Fria.
O órgão afirma que, "agindo a pedido do lado americano", o repórter "coletou informações que constituem um segredo de estado sobre as atividades de uma empresa dentro do complexo militar-industrial da Rússia". Não foram apresentadas provas, e uma corte moscovita determinou que ele fique preso pelo menos até o dia 29 de maio, quando haverá uma audiência sobre o caso.
O WSJ nega as acusações e já pediu uma "escalada diplomática e política", com a expulsão do embaixador russo nos EUA, assim como de todos os jornalistas russos. Riabkov afirma que o jornal tenta "aumentar as tensões em torno dessa questão diariamente". Após a detenção, a porta-voz da Casa Branca classificou as acusações de "ridículas", e o presidente americano, Joe Biden, pediu a libertação do repórter.
Em dezembro, a jogadora de basquete americana Brittney Griner foi libertada pela Rússia depois de Moscou e Washington concordarem em realizar uma troca de prisioneiros. Griner estava detida na Rússia desde fevereiro devido à acusação de posse de haxixe, e a contrapartida americana foi a libertação do russo Viktor Bout, condenado por tráfico de armas.
A escalada no caso do jornalista americano fez o embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoli Antonov, sugerir a redução do número de jornalistas americanos na Rússia. "Os americanos nos ameaçaram com medidas de retaliação se não libertarmos Gerchkovitchem um futuro próximo", disse Anatoli Antonov à televisão estatal russa First Channel nesta sexta-feira (14). "Vamos ver como eles vão agir."
Ele afirmou ainda que teve uma conversa "muito dura" com a subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, que acusou a Rússia de deter Gerchkovitch ilegalmente. Antonov disse que Nuland o interrompeu repetidamente de maneira contraproducente.
"Os americanos têm uma palavra muito boa, 'reciprocidade' na qual sempre insistem", disse Antonov. "Talvez seja a hora de mostrarmos reciprocidade e reduzirmos o número de jornalistas americanos que trabalham em Moscou e na Rússia ao número [de jornalistas russos] que trabalham em Washington e Nova York."
Muitos repórteres dos EUA deixaram a Rússia depois que o presidente Vladimir Putin ordenou a entrada de tropas na Ucrânia no ano passado ?e outros partiram desde a detenção de Gerchkovitch. Os EUA pediram a seus cidadãos que deixassem a Rússia devido ao conflito e ao risco de prisão arbitrária ou assédio por parte das agências policiais russas.
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