BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em visita ao Brasil, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, criticou países da Europa ocidental por fazerem "propaganda" em relação à Guerra da Ucrânia. Durante uma aula a diplomatas brasileiros nesta segunda-feira (17), o chanceler russo comparou a prática a táticas empregadas pelo ministro de Propaganda do regime nazista, Joseph Goebbels.
A aula para alunos do Instituto Rio Branco, a escola de formação de diplomatas, não foi aberta à imprensa, mas a Folha de S.Paulo confirmou o conteúdo da fala de Lavrov. Diferentemente da declaração oficial no Itamaraty, em que falou em russo, o chanceler discursou em inglês para os diplomatas brasileiros. Ele também aceitou responder a perguntas dos alunos --mais cedo, não deu a mesma oportunidade a jornalistas.
Lavrov está em visita oficial ao Brasil e já teve uma reunião com o chanceler Mauro Vieira. Na ocasião, ele deu uma declaração à imprensa em que disse que Brasil e Rússia têm "abordagem similar" em relação a questões atuais no mundo --numa referência velada à guerra no Leste Europeu. Ainda nesta segunda, o russo se encontra com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio da Alvorada.
Não é a primeira vez que Lavrov faz comparações com táticas do regime nazista para se referir à abordagem do Ocidente sobre a Guerra da Ucrânia --que ele próprio não chama de guerra. Em janeiro, ele afirmou que os Estados Unidos lideram uma coalizão para resolver "a questão russa" da mesma forma que Adolf Hitler buscou a "solução final" --o plano nazista de extermínio dos judeus.
Em outro trecho da palestra no Rio Branco, Lavrov fez uma comparação entre os referendos realizados para a anexação de quatro regiões no leste da Ucrânia --considerados uma farsa e ilegítimos pelo Ocidente-- com consulta do tipo realizada nas Malvinas, ilhas britânicas no Atlântico Sul reivindicadas pela Argentina.
Em 2013, residentes das Malvinas aprovaram por ampla maioria sua permanência como território vinculado ao Reino Unido. Na palestra, Lavrov disse que os referendos feitos na Ucrânia foram "mais transparentes" do que o das Malvinas, numa provocação ao Reino Unido, crítico vocal da invasão russa.
O chanceler também descreveu a posição do Brasil sobre o conflito como "equilibrada".
Lavrov leu o discurso no Rio Branco e abordou alguns temas de política externa de forma mais franca e detalhada. No Itamaraty, por exempo, ele disse que a Rússia apoia as ambições do Brasil e da Índia de assumirem assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU. Ele reiterou esse ponto na palestra, mas ponderou que Moscou é contra a incorporação de países desenvolvidos sob a esfera do Ocidente.
Na prática, a fala de Lavrov coloca obstáculos ao pleito brasileiro, uma vez que o país articula a expansão do órgão num grupo conhecido como G4, que também engloba Alemanha, Japão e Índia.
A reportagem procurou a Embaixada da Rússia e o Itamaraty para comentar as declarações de Lavrov a palestra. A missão russa não respondeu. O Itamaraty disse que não comentaria.
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