SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um documento do Pentágono vazado recentemente mostra que a China desenvolveu um drone espião supersônico, capaz de se deslocar com uma rapidez equivalente a pelo menos três vezes a velocidade do som. A informação foi revelada pelo jornal americano Washington Post na noite desta quinta-feira (18) -nem o Departamento de Defesa americano nem o regime chinês responderam aos pedidos de comentários do veículo.

A origem do dado é um arquivo da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial pertencente a um conjunto de mais de cem papéis sigilosos do Exército americano divulgado nas redes sociais nas últimas semanas. Segundo o Post, ele exibe imagens de satélite datadas de 9 de agosto que mostram dois drones de reconhecimento W-Z8 em uma base aérea no leste chinês, a cerca de 560 quilômetros de Xangai.

A base é administrada pelo Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular, responsável por supervisionar operações militares em Taiwan -um dos maiores focos de tensão das relações sino-americanas nos últimos tempos. Pequim considera Taipé uma província rebelde e parte inalienável de seu território. Já Washington é um de seus maiores aliados estrangeiros e principal fornecedor de armas, ainda que não mantenha laços diplomáticos formais com a ilha.

Segundo o Washington Post, o modelo de drone descrito no arquivo foi apresentado pela primeira vez em 2019, durante o desfile militar que comemorava os 70 anos da fundação do regime comunista na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Então, poucos analistas o considerava totalmente funcional.

A versão do equipamento que o arquivo vazado descreve seria, porém, de tecnologia de ponta, e segundo analistas tem potencial de aumentar de dramaticamente a eficiência das operações de vigilância chinesas na região. Especialistas entrevistados pelo Post afirmam inclusive que o mais preocupante não é os perigos que os drones podem representar para Taiwan, mas sim para os navios e bases militares dos EUA na área do Pacífico.

Dean Cheng, pesquisador sênior do Instituto Potomac de Estudos Políticos, por exemplo, afirmou ao jornal americano que o arquivo indica que a China está desenvolvendo artefatos capazes de monitorar toda a região do Indo-Pacífico -área que vem ganhando força no xadrez geopolítico justamente devido à perspectiva de se tornar palco de conflitos entre Pequim e Washington.

Para o pesquisador, que não viu o documento pessoalmente, isso significaria que não são só os EUA que têm que se preocupar com os drones, mas também o Japão, a Índia, e basicamente todo o Sudeste Asiático.

O principal suspeito de ter vazado o documento -e outras dezenas de arquivos militares sigilosos do tipo- é Jack Teixeira, 21. Detido pelo FBI, a polícia federal americana, na semana passada, ele é acusado de ter fotografado e divulgado os papéis em um servidor privado do aplicativo Discord.

Teixeira integrava a Guarda Nacional Aérea de Massachusetts, braço estadual da Força Aérea americana cujos integrantes respondem a desastres naturais e outras emergências civis quando acionados pelo governador, além de poderem apoiar missões federais se solicitados pelo presidente.

Segundo as investigações iniciais, os papéis podem ter circulado por meses na internet até chamarem a atenção da imprensa no início deste mês. Autoridades dos EUA reconheceram publicamente a autenticidade dos documentos, embora tenham alertado que uma parcela deles aparenta ter tido informações adulteradas, sobretudo quando relacionadas à Guerra da Ucrânia.

O vazamento causou certo embaraço para a Casa Branca. De um lado, evidenciou o fato de que funcionários de baixa patente têm acesso a documentos ultrassecretos -Teixeira, um funcionário da área de informática, por exemplo, tinha acesso a uma espécie de enorme biblioteca de informações da inteligência americana chamada JWICS (União Mundial de Sistemas de Comunicações de Inteligência, na sigla em inglês).

Por outro lado, muitos dos documentos trazem evidências de que os EUA continuam a espionar nações aliadas mesmo após o escândalo de 2013, quando uma série de ações do tipo foi trazida à tona pelo ex-técnico da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden. Desta vez, porém, a reação dos governos parceiros foi de bem menos indignação, e uma parcela deles simplesmente negou a autenticidade dos papéis.

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