SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A China fez duras críticas nesta quinta (27) aos Estados Unidos e à Coreia do Sul, a quem advertiu a não provocar uma "confrontação" com a ditadura de Kim Jong-un na porção norte da península coreana.

Na véspera, o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol foi recebido com honras de Estado pelo colega Joe Biden em Washington, e ambos elevaram o tom de ameaça à Coreia do Norte, que desde o ano passado acelerou seu programa de mísseis e a retórica de usar armas nucleares contra o Sul, os EUA ou aliados americanos como o Japão.

Ambos os presidentes concordaram em montar um grupo para decisões conjuntas em caso de um ataque norte-coreano ao Sul, incluindo resposta com ogivas atômicas americanas. Elas não serão, contudo, posicionadas no território aliado como ocorria até o fim da Guerra Fria, em 1991. Biden ameaçou Kim com "o fim do regime" em caso de guerra.

A China tem em Pyongyang um aliado algo difícil, mas um aliado armado com talvez 30 bombas nucleares e um sofisticado programa de mísseis balísticos, inclusive com modelos intercontinentais capazes de atingir os EUA.

"Todas as partes devem enfrentar o tema [da tensão coreana] e ter um papel construtivo para uma solução pacífica", afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Mao Ning. Ela disse que a China pede a Washington e Seul que evitem "provocar uma confrontação e fazer ameaças".

A fala chinesa mostra o que está em jogo além da disputa decorrente do congelamento da Guerra da Coreia, em que americanos apoiaram o Sul capitalista e sino-soviéticos, o Norte comunista de 1950 a 1953.

Na Guerra Fria 2.0, ponteada pelos EUA e a China, a península coreana é um dos campos de disputa globais, envolvendo regionalmente também a Rússia, maior aliada chinesa, e o Japão, do campo americano.

Enquanto a Guerra da Ucrânia concentra atenções mundiais na Europa, as potências todas se posicionam para a disputa no Indo-Pacífico, principal rota comercial marítima do mundo, além de ser região rica em recursos naturais. São todas engrenagens de uma máquina maior.

Com efeito, Mao disse que os EUA "ignoram a segurança regional e exploram o tema da península para criar tensão". O acordo entre Biden e Yoon na prática jogou fora as tentativas de negociação com o regime norte-coreano, que tiveram alguma tração no governo de Donald Trump, com três encontros entre o americano e Kim em 2018 e 2019, sem efeito prático a não ser o reconhecimento do status de potência nuclear do Norte.

Tal situação é vital, no microcosmo norte-coreano, para a manutenção do poder da dinastia Kim, que está em sua terceira geração de um bizarro experimento social stalinista em pleno século 21. Sem a bomba, o regime perde seu escudo, mas se empregá-la, Biden está certo: sua aniquilação é inevitável.

Nesse sentido, é notável até aqui o silêncio de Pyongyang ante a renovada agressividade americana. Ou houve compreensão que era melhor a China assumir o lugar de crítica, ou alguma reação de natureza militar ou provocativa está sendo tramada.

Além do grupo para o caso de guerra, Seul e Washington vão ampliar a cooperação militar, e pela primeira vez desde os anos 1980 um submarino com mísseis nucleares americano fará uma visita técnica a um porto sul-coreano, para começar. Dada a praxe de Kim, é provável que o movimento seja respondido com mais testes de mísseis ou, como temem observadores, uma nova prova nuclear.


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