MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - Em visita aos EUA, nesta quinta (11) e sexta-feira (12), o premiê da Espanha, Pedro Sánchez, deve pedir a Joe Biden que Brasil e China sejam considerados nas tomadas de decisões sobre a Guerra da Ucrânia. A informação foi dada por uma fonte diplomática espanhola, sob anonimato, à agência de notícias Reuters.
Brasil e China não fazem parte da Otan, a aliança militar ocidental. Washington e Madri são membros, o que, por convenção, significa que dividem a mesma opinião sobre a necessidade de armar e prestar apoio à Ucrânia contra a Rússia, a agressora.
No entanto, Sánchez visitou Pequim há dois meses e, há duas semanas, recebeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio de Moncloa, sede do governo espanhol. Na ocasião, o líder socialista agradeceu ao presidente brasileiro por seu interesse em acabar com o conflito, mas ressaltou que havia "nuances" diferentes na proposta de paz defendida por cada um.
Na visita aos EUA, Sánchez se posiciona como intermediário devido a seus laços estreitos com países latino-americanos e a relações mais conciliatórias que tem com a China. Será a primeira reunião na Casa Branca entre o espanhol e o americano e ocorre pouco antes de Sánchez assumir a presidência rotativa do Conselho da União Europeia --que, juntamente com o Parlamento Europeu, é o principal órgão de decisão do bloco-- no segundo semestre deste ano.
Lula tem tentado se colocar como mediador entre as nações em guerra com a proposta de criação de um "clube da paz" que não teve avanços concretos. Algumas de suas declarações, no entanto, repercutiram mal na comunidade internacional e geraram dúvidas acerca da alegada neutralidade do Brasil.
No início do mês passado, por exemplo, em um café da manhã com jornalistas em Brasília, Lula sugeriu que talvez Kiev tivesse que ceder território para chegar a um acordo com Moscou ao afirmar que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, "não pode também ter tudo o que ele pensa que vai querer".
O presidente também disse, na ocasião, que o o presidente da Rússia, Vladimir Putin, "não pode ficar com terreno da Ucrânia", mas ao não condenar peremptoriamente Moscou pela invasão, ele desagradou lideranças e diplomatas dos países da Otan. As reações mais ruidosas vieram dos EUA, mas o petista também foi confrontado por opiniões divergentes de chefes de Estado e de governo, como Sánchez.
Tanto o espanhol quanto o brasileiro estiveram na China neste ano e conversaram com Xi Jinping. Quando voltava de Pequim, em meados de abril, Lula afirmou que "é preciso que os EUA parem de incentivar guerra e comecem a falar em paz" e cobrou da União Europeia "boa vontade, para a gente voltar a ter paz" na Ucrânia. Ambas as falas também foram vistas como uma inclinação aos lados russo e chinês.
Já Sánchez, em março, encorajou Xi a conversar com Zelenski e a conhecer a proposta de Kiev para pôr fim ao conflito. "É um plano que estabelece as bases para uma paz duradoura na Ucrânia e está perfeitamente alinhado com a carta da ONU e com seus princípios, que foram violados por Putin com a invasão", afirmou o espanhol.
Há três semanas, Xi efetivamente conversou por telefone por Zelenski. Disse que "a China sempre esteve do lado da paz" e que sua "postura central é facilitar as negociações". Xi afirmou ainda que seu país "não criou a crise na Ucrânia nem é parte dela". "Como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e grande país responsável, não ficaria de braços cruzados nem colocaria gasolina no fogo, muito menos exploraria a situação para ganhos próprios."
Em fevereiro, quando a guerra fez seu primeiro aniversário, a China divulgou seu próprio plano de paz para o conflito no Leste Europeu. Dividida em 12 pontos, a propostas inclui, por exemplo, a oposição ao uso de armas nucleares, o fim das sanções impostas a Moscou, e a recusa do que Pequim chama de "mentalidade de Guerra Fria", isto é, a divisão do mundo em blocos.
Sánchez terá alcançado um feito e tanto se conseguir viabilizar, de alguma maneira, o diálogo entre Biden e Xi, em especial no que diz respeito à Guerra da Ucrânia. Essa, contudo, não é a única pauta que o espanhol leva a Washington. O premiê vai esboçar à Casa Branca sua política para o mandato europeu, chamada "autonomia estratégica aberta", que quer reduzir as vulnerabilidades da Europa sem desviar para o protecionismo --tema sobre o qual Biden e a UE já tiveram rusgas recentes.
Segundo a Reuters, a união busca fortalecer a indústria doméstica e garantir fontes confiáveis de matérias-primas e energia para encontrar maneiras de rivalizar com os subsídios verdes anunciados pelo governo Biden sob a Lei de Redução da Inflação. A potencial cooperação na fabricação e/ou fornecimento de microchips e semicondutores e na exploração de minerais de terras raras da América Latina também estará na pauta dos dois líderes.
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