BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo do Brasil anunciou nesta quinta-feira (11) a concessão do chamado agrément --documento diplomático que indica concordância do governo anfitrião com a nomeação para a representação-- ao novo embaixador da Ucrânia em Brasília, Andrii Melnik. O posto estava vago e vinha sendo chefiado pelo encarregado de negócios Anatoli Tkach.

A autorização foi divulgada um dia após a visita à Ucrânia de Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais. Melnik foi um dos diplomatas com quem Amorim se encontrou em Kiev, e e o brasileiro também esteve com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski.

Melnik é atualmente um dos vice-chanceleres da Ucrânia e o responsável por Américas na diplomacia de Kiev. Anteriormente, já foi embaixador de seu país na Alemanha.

Depois de se encontrar com Amorim, o ucraniano afirmou em suas redes sociais que o Brasil pode desempenhar um papel importante para mediar a paz no Leste Europeu. "Feliz em encontrar o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embaixador Celso Amorim. O Brasil pode desempenhar um papel importante para parar a agressão russa e para atingir uma paz duradoura e justa. Também vamos lutar para revigorar a parceria estratégia de 2009. Obrigado", escreveu o diplomata ucraniano.

Amorim viajou para a Ucrânia, após uma série de críticas a Lula por suas falas e gestos vistos como favoráveis à Rússia. O presidente sugeriu, por exemplo, que EUA e União Europeia prolongam a guerra --em referência ao apoio militar ocidental a Kiev-- além de ter afirmado que Zelenski era tão responsável pela guerra quanto Vladimir Putin.

Em audiência pública no Senado nesta quinta, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, defendeu que o Brasil mantenha o princípio de neutralidade em sua abordagem da Guerra da Ucrânia e defendeu que o país assuma papel de facilitador para a negociação de paz do conflito.

Vieira reforçou, no entanto, o posicionamento de praxe da diplomacia brasileira, com acenos tanto a Moscou quanto a Kiev. "Temos buscado manter uma posição equilibrada, mas sobretudo construtiva. Condenamos a violação da integridade territorial ucraniana no Conselho de Segurança da ONU, assim como na Assembleia Geral das Nações Unidas. Ao mesmo tempo, nos posicionamos contra as tentativas de isolamento da Rússia nos foros internacionais, as quais diminuem o espaço de diálogo e reduzem as chances de uma solução", afirmou.

"Não estamos interessados em tomar lados, mas em preservar canais de diálogo com todos, única maneira de contribuir efetivamente para a construção de espaços de negociação que conduzam à paz efetiva e sustentável", completou.

Também nesta quinta, em entrevista à Folha de S.Paulo, Amorim disse que o Brasil pode mediar um acordo de paz no Leste Europeu em meio ao cansaço de outros países. O ex-chanceler disse ainda que propôs a Zelenski um modelo diplomático chamado de "negociação por proximidade", em que países em conflito se reúnem em uma cidade e se comunicam por meio de intermediários não alinhados a nenhum deles, trocando informações sobre posicionamentos e se preparando para contato direto.


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