SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Iniciada em fevereiro de 2022, a Guerra da Ucrânia vem registrando poucos avanços de lado e lado nos últimos meses e continua sem perspetiva para acabar. Numa tentativa de conter o conflito que impacta a economia global, vários países apresentaram propostas de paz, mas nenhuma conseguiu êxito até agora.

As iniciativas voltarão a ser discutidas em Hiroshima, no Japão, durante a cúpula do G7, grupo que reúne algumas das principais economias mundiais. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, é um dos convidados e deve participar do evento no domingo (21), quando o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), falará em favor dos planos de paz para o conflito no Leste Europeu.

Entenda quais são as propostas para colocar fim à guerra entre Ucrânia e Rússia e por que elas não avançam.

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PLANO DO BRASIL

Brasília defende a criação de um "clube da paz" formado por países não alinhados a nenhum dos lados do conflito para negociar o fim da Guerra da Ucrânia. A iniciativa é encabeçada pelo presidente Lula, mas esbarra na falta de clareza e não gerou entusiasmo entre líderes ocidentais até agora.

A proposta perdeu força após declarações de Lula repercutirem mal na comunidade internacional e gerarem dúvidas acerca da alegada neutralidade do Brasil. Em abril, por exemplo, o presidente disse que Zelenski "não pode ter tudo o que ele pensa que vai querer" e sugeriu que talvez Kiev tivesse que ceder território para chegar a um acordo com Moscou. No mesmo mês, depois de encontrar o líder chinês, Xi Jinping, o brasileiro disse que a Ucrânia também é responsável pela guerra.

Assessor especial de Lula para política externa, o ex-chanceler Celso Amorim, viajou à Rússia e à Ucrânia com o objetivo de prospectar os cenários para uma negociação de paz. Segundo ele, os diálogos foram positivos, mas a ambição brasileira levará tempo. "Não há solução imediata", disse.

PLANO DA CHINA

A proposta chinesa, apresentada no aniversário de um ano da invasão russa, é vista com ceticismo pelo Ocidente, que não considera Pequim uma mediadora imparcial. Antes da guerra, o líder chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, estiveram juntos em Pequim e celebraram uma "amizade sem limites". Em março passado, o dirigente chinês foi a Moscou e reafirmou a aliança com o Kremlin.

Dividido em 12 pontos, o plano chinês é considerado genérico. As propostas repetem em grande medida os posicionamentos que o gigante asiático vinha defendendo desde o início da guerra, entre os quais a oposição ao uso de armas nucleares, o fim das sanções impostas a Moscou e a recusa do que o regime chama de "mentalidade de Guerra Fria", isto é, a divisão do mundo em blocos.

Neste mês, a China enviou uma delegação à Ucrânia para tentar mediar o conflito. Na ocasião, Kiev reiterou que não aceita qualquer negociação em troca de territórios.

PLANO DA ÁFRICA DO SUL

O plano de paz sul-africano está ainda pouco claro, mas, segundo o presidente Cyril Ramaphosa, será apresentado a Putin e a Zelenski em breve. De acordo com o líder, Senegal, Uganda, Egito, República do Congo e Zâmbia também farão parte do esforço de mediação.

A proposta foi apresentada após o governo dos Estados Unidos acusar a África do Sul de fornecer secretamente armas à Rússia. Ramaphosa nega e diz que seu país é neutro.

A Ucrânia é um dos maiores fornecedores mundiais de grãos, e a interrupção do transporte no mar Negro agravou a crise alimentar no continente africano. As exportações foram retomadas em agosto do ano passado, após acordo firmado pela Rússia e Ucrânia.

OUTROS PAÍSES QUE TENTAM NEGOCIAR A PAZ

Numa tentativa de avançar as negociações pelo fim da guerra, o regime da Arábia Saudita convidou Volodimir Zelenski para a cúpula do G7 no Japão, segundo a agência de notícias AFP.

Em 2022, MbS, como é conhecido o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, intermediou a libertação de dez prisioneiros ucranianos capturados pela Rússia na guerra, em ação supostamente possibilitada pela proximidade com o líder russo, Vladimir Putin. Já durante a cúpula do G7, o líder saudita disse que seu país está pronto para mediar a paz entre Moscou e Kiev.

Na Turquia, o presidente Recep Tayyip Erdogan mantém canais de diálogo com o Ocidente e também com Vladimir Putin. A dualidade o torna candidato para conduzir as negociações pela paz na guerra. Em 2022, Ancara atuou como mediadora ao lado da ONU para estabelecer um acordo que permitisse a exportação de grãos ucranianos.

O QUE TRAVA OS PROCESSOS DE PAZ

O principal entrave é a disputa territorial. O Kremlin diz que vai lutar até que todos os seus objetivos sejam alcançados, enquanto Kiev afirma que não vai descansar até que todos os soldados russos sejam expulsos de todo o seu território, incluindo a Crimeia, que a Rússia anexou em 2014.

Em setembro do ano passado, a Rússia anunciou a anexação de quatro regiões que ocupa parcialmente na Ucrânia: Donetsk e Lugansk, no leste, e Zaporíjia e Kherson, no sul. As áreas são equivalentes a cerca de 18% do território do vizinho invadido.

Nos últimos meses, os confrontos estão concentrados na região de Bakhmut, em Donetsk -palco da batalha mais longa da guerra até aqui. Os avanços, contudo, têm sido lentos.


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