SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A organização Human Rights Watch criticou nesta quarta-feira (31) a declaração feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante encontro com líderes sul-americanos em Brasília de que havia "narrativas" sobre a situação política da Venezuela.
Em nota, a organização disse que o líder brasileiro foi imprudente e perdeu uma oportunidade crucial para defender os direitos humanos no país vizinho. "Como alguém que enfrentou recentes esforços para derrubar a democracia no Brasil, foi frustrante vê-lo bajulando um governante tão autoritário", disse.
O texto diz que a Human Rights Watch e organizações venezuelanas têm documentado diversas violações dos direitos humanos cometidas pelo regime do ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Os crimes incluem repressão contra manifestantes, tortura de pessoas detidas e abertura de processos criminais contra civis em tribunais militares.
"Desde 2014, ocorreram 15.700 prisões por motivos políticos, e hoje mais de 280 pessoas permanecem detidas por motivos políticos", diz a organização, acrescentando que o regime de Maduro assumiu o controle do Legislativo na Venezuela e subordinou o Judiciário aos seus interesses.
A nota lembra ainda que as crises política e econômica na Venezuela causaram pobreza e crise migratória. Segundo a organização, 7,2 milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2014. "As Nações Unidas têm relatado que a desnutrição no país é a mais alta da região, afetando 6,5 milhões de pessoas. A Human Rights Watch também documentou o colapso do sistema de saúde."
Segundo a nota, Lula deveria demostrar apoio aos presos políticos, jornalistas ameaçados, doentes e famintos, migrantes e refugiados na Venezuela, além de usar todas as oportunidades que tem para reformular seu posicionamento sobre o país.
"Lula deveria aproveitar todas as oportunidades para restaurar a liderança que seus comentários imprudentes minaram e cumprir sua promessa de ser um líder na defesa e promoção dos direitos humanos em todo o mundo. A crise venezuelana e a crise migratória que ela gerou continuarão sendo um tema importante sempre que os líderes sul-americanos se encontrarem", diz trecho do texto.
Lula realizou uma reunião de líderes sul-americanos na tentativa de criar maior integração na região. Na segunda, o presidente recebeu Maduro em visita oficial. Na ocasião, o brasileiro disse que as acusações de falta de democracia no país caribenho eram parte de uma "narrativa".
"Cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer as pessoas mudarem de opinião. É preciso que você [Maduro] construa a sua narrativa. E a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que o que eles têm contado contra você. Está nas suas mãos construir a sua narrativa e virar esse jogo, para que a gente possa vencer definitivamente, e a Venezuela, voltar a ser um país soberano, onde somente seu povo, por meio de votação livre, diga quem é que vai governar esse país", afirmou Lula.
A fala foi criticada pelos presidentes de Uruguai e Chile. O líder uruguaio Luis Lacalle Pou, do Uruguai, se disse surpreso com a declaração do petista. Na mesma toada, o líder do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, um crítico da ditadura venezuelana, afirmou ter manifestado uma discrepância em relação à declaração de Lula.
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Human Rights Watch
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