WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Após uma sessão de fotos com apoiadores em um restaurante cubano em Miami, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump foi para Nova Jersey, onde fez um comício cheio de piadas, arrancou risos da plateia e ouviu até um "parabéns para você" -o republicano completa 77 anos nesta quarta-feira (14).
Um dia comum na vida de um pré-candidato em plena campanha para voltar a Casa Branca na eleição do ano que vem. A diferença é que, antes disso, ele ficou sob custódia de autoridades de um tribunal federal para ouvir as 37 acusações a que vai responder por violações a lei de espionagem e obstrução de justiça por ter mantido em seu domínio documentos sigilosos após deixar a Presidência.
Trump é o primeiro ex-presidente dos EUA indiciado por crimes federais depois de também ser o pioneiro na esfera estadual, mas até aqui conseguiu transformar os reveses em campanha, que coroou com discurso de 35 minutos na noite desta terça-feira (13). No comício, seguiu à risca a cartilha: afirmou que o processo é uma perseguição política, disse que é alvo de uma Justiça seletiva que não age da mesma forma sobre os democratas e terminou com o lema de que vai "fazer a América grande de novo".
O comício aconteceu no clube de golfe de sua propriedade em Bedminster, no estado de Nova Jersey, onde costuma passar os verões -o local também é palco de um dos argumentos centrais para seu indiciamento. Foi lá que, em julho de 2021, ele deu uma entrevista em que mostrou e detalhou um plano de ataque ao Irã que disse ter sido preparado pela Defesa americana. Na conversa, ele reconheceu que as informações eram confidenciais. No mesmo clube, semanas depois, ele mostrou a um apoiador político um mapa confidencial de uma operação militar e disse que não deveria compartilhar aquela informação.
Essas informações constam no processo que o levou ao banco dos réus em Miami, onde foi fichado e alegou inocência. "Hoje testemunhamos o abuso de poder mais perverso e hediondo da história de nosso país", disse aos apoiadores. "Algo muito triste de se assistir, um presidente corrupto em exercício teve seu principal oponente político detido sob acusações falsas e fabricadas, das quais ele e vários outros presidentes seriam culpados, bem no meio de uma eleição presidencial na qual ele está perdendo".
Trump se referiu ao fato de que, como a investigação que o levou outra vez ao banco dos réus é federal, estava subordinada ao Departamento de Justiça de Joe Biden --o democrata afirma que nem sequer falou sobre o assunto com os responsáveis pelo caso. A investigação foi capitaneada pelo conselheiro especial Jack Smith, que supervisiona também a apuração sobre possível responsabilidade de Trump na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e foi alvo de queixas de Trump no discurso desta noite. O republicano afirmou que também vai indicar um procurador para "ir atrás de Biden", se eleito ano que vem.
Ainda na cartilha, Trump evocou o caso dos emails de Hillary Clinton, que, enquanto secretária de Estado (2009-2013) no governo de Barack Obama usou seu email pessoal em vez das ferramentas do governo, o que gerou uma investigação do FBI por supostamente colocar em risco informações secretas -a apuração a afastou de qualquer responsabilização criminal, no entanto. Trump também citou o fato de Biden também ter mantido documentos do governo após deixar a Vice-Presidência, em 2017.
O ex-presidente afirmou ainda que teria direito a manter os documentos sob seu domínio após deixar o governo e disse que ficou com as caixas porque "continham todo tipo de objetos pessoais". Autoridades encontraram com Trump cerca de 300 documentos sigilosos que não deveriam ter saído da Casa Branca, com informações sobre programas nucleares, capacidades militares e pontos de vulnerabilidade dos EUA e de aliados e até planos de ataques a outros países, segundo a investigação.
Os arquivos estavam guardados sem cuidado no resort de Mar-a-Lago, na Flórida. Enquanto isso, houve mais de 150 eventos no local, incluindo casamentos, estreias de filmes e encontros de arrecadação de fundos, com milhares de pessoas que poderiam acessá-los, segundo os promotores. A divulgação não autorizada, argumentaram, poderia colocar em risco a segurança nacional do país e de aliados.
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