SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ditador da república russa da Tchetchênia, Ramzan Kadirov, apelou aos serviços de inteligência da Ucrânia para localizar seu número 2, que segundo relatos teria morrido ou sido ferido em combates no sul do país invadido por Vladimir Putin há quase 16 meses.

O insólito pedido foi feito em sua conta no Telegram. "Eu peço que a inteligência ucraniana forneça informações sobre qual local e posições foram atingidas, para que eu ainda possa encontrar meu querido irmão", dizia o texto. Kadirov prometeu "uma generosa recompensa" pela informação.

O episódio começou pela manhã desta quarta (14), quando a mídia ucraniana passou a relatar a morte de Adam Delimkhanov, comandante das forças tchetchenas em operação visando deter a contraofensiva de Kiev em Zaporíjia, no sul ucraniano. Ele é o mais próximo aliado de Kadirov, visto como seu braço-direito.

Depois, a TV Zvezda (estrela, em russo), das Forças Armadas russas, disse que ele havia sido ferido. Por fim, à tarde (manhã no Brasil), o presidente da Duma (equivalente à Câmara dos Deputados do Brasil), Viacheslav Volodin, foi a plenário afirmar: "Falei com ele agora há pouco, está vivo e bem". Delimkhanov é membro da Casa.

O Kremlin, ao mesmo tempo, adotou uma postura mais conservadora. Seu porta-voz, Dmitri Peskov, disse que estava preocupado com as notícias e esperando mais informações. O episódio é ilustrativo da balbúrdia informativa da guerra, e coloca na ribalta o papel dos tchetchenos, que parece destinado a crescer na guerra após o agravamento da crise entre os mercenários do Grupo Wagner e o Ministério da Defesa.

Nesta quarta, o líder do grupo, Ievguêni Prigojin, reafirmou que não irá assinar o contrato que o ministério determinou ser obrigatório para submeter todas as forças irregulares sob seu comando na Rússia. O Wagner, com talvez 50 mil soldados antes de ser o principal fornecedor de carne para o "moedor" da batalha que venceu em Bakhmut (Donetsk, leste da Ucrânia), é a principal formação do tipo no país.

Prigojin jogava afinado com Kadirov contra a cúpula militar, mas o tchetcheno se afastou e agora aceitou colocar os voluntários sob seu comando no guarda-chuva da Defesa. Não está claro o quanto isso afeta suas tropas já associadas à Guarda Nacional, ente separado das Forças Armadas russas que responde diretamente a Putin.

Seja como for, a expectativa é de que Kadirov, que já havia tomado de forma tragicamente épica a cidade de Mariupol (sul) no ano passado, agora ganhe um papel de maior destaque na guerra. Ele é um dos mais ferrenhos aliados de Putin, responsável pela estabilidade em seu conturbado flanco sul e com extensos contatos no mundo árabe e muçulmano.

Em campo, os combates prosseguem em três frentes distintas em Donetsk e Zaporíjia. Kiev voltou a reportar alguns ganhos modestos em torno de Bakhmut, e Moscou diz ter repelido os ataques. A dinâmica contrainformativa seguirá assim até que fique claro se a Ucrânia conseguirá romper alguma linha defensiva principal russa.

Ataques com mísseis russos continuaram no país invadido, deixando três mortos no porto de Odessa (sul). Em Zaporíjia, a Agência Internacional de Energia Atômica postergou a visita que faria à usina nuclear homônima, sob risco desde que a represa cujo reservatório lhe fornece água para resfriar os reatores foi explodida, na semana passada -episódio pelo qual Moscou e Kiev se culpam.

Belarus recebe armas nucleares

Ao norte, em Belarus, o ditador Aleksandr Lukachenko anunciou que as primeiras "bombas e mísseis" com ogivas nucleares russas estão em seu território. Ele já havia dito antes que isso iria acontecer, a partir do acordo assinado em março com Putin, e o presidente russo afirmou no fim de semana que a previsão de entrada em operação é entre 7 e 8 de julho.

"As bombas são três vezes mais poderosas do que aquelas [jogadas pelos americanos em 1945 nas cidades japonesas] de Hiroshima e Nagasaki", afirmou ele em uma entrevista concedida ao canal estatal russo Rússia-1.

A confirmar a informação, serão ogivas com potência de 45 quilotons a 60 quilotons. Seu uso é tático, visando destruir alvos militares ou impedir avanço de adversários, em oposição àquelas estratégicas, que buscam ganhar guerras obliterando cidades inteiras.

Especialistas de entidades como o Boletim dos Cientistas Atômicos (EUA) têm expressado dúvidas sobre o acerto e a velocidade de sua implementação, sugerindo que Putin pode estar apenas querendo intimidar os beligerantes membros orientais da Otan, a aliança militar liderada por Washington, como a Polônia.

Desde que sobreviveu a grandes protestos em 2020, Lukachenko perdeu sua condição de jogar duplo com o Kremlin e a Europa Ocidental, caindo no colo político do Kremlin. Entrou em escaramuças com poloneses e lituanos, e nesta quarta disse que seu país "sempre foi um alvo" da Otan.

Está em processo de unificação de suas forças com as de Putin, embora não participe diretamente da guerra na Ucrânia, apenas permita o uso de seu solo pelos russos. As bombas nucleares, primeiras a serem posicionadas fora da Rússia desde a devolução das armas por Belarus, Ucrânia e Cazaquistão nos anos 1990, serão operadas em mísseis Iskander e caças táticos Su-25 adaptados.

A Rússia tem cerca de 1.800 dessas bombas, que não eram controladas pelo último acordo de limitação de armas nucleares, de resto suspenso por Putin em fevereiro. Os EUA têm posicionadas cerca de 100 ogivas em seis bases da Otan na Europa, nunca as tendo retirado após o fim da Guerra Fria, em 1991.


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