BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS) negou ter manifestado nos Estados Unidos, no ano passado, preocupação com a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil patrocinado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelas Forças Armadas.

Mourão, general da reserva, afirmou à Folha de S.Paulo ter dito a investidores americanos que Bolsonaro respeitaria o resultado das eleições e que os militares se manteriam fiéis aos seus compromissos constitucionais.

A reunião do então vice-presidente nos EUA ocorreu apenas três dias depois da apresentação feita por Bolsonaro em Brasília a embaixadores estrangeiros, ocasião em que o hoje ex-presidente fez ameaças golpistas e reiterou teorias das conspiração sobre as urnas eletrônicas utilizadas no país.

O jornal nipo-britânico Financial Times relatou que o governo de Joe Biden enviou sinais em 2022 a autoridades brasileiras de que se manteria neutro na disputa, mas retaliaria qualquer descumprimento ao resultado do pleito --ameaça repetida em discursos públicos e privados de Bolsonaro e aliados.

Uma das fontes ouvidas pela publicação é Thomas Shannon, embaixador dos EUA no Brasil entre 2009 e 2013 (durante os mandatos Lula 2 e Dilma 1), tendo sido também subsecretário para Assuntos Políticos do Departamento de Estado, um dos cargos mais importantes da diplomacia americana.

Ao Financial Times Shannon afirmou que, na visita de Mourão a Nova York, em julho de 2022, durante almoço privado com investidores, o então vice-presidente teria evitado responder a perguntas sobre riscos de um golpe, reiterando confiança nas Forças Armadas e em seu compromisso com a democracia.

Ao sair do encontro e entrar com o diplomata em um elevador, porém, ele teria manifestado a Shannon uma perspectiva mais perturbadora. De acordo com a reportagem, Shannon disse a Mourão nessa conversa particular que compartilhava dos receios de golpe expressos pelos investidores e que estava "muito preocupado". "Também estou", teria respondido o então vice de Bolsonaro.

Mourão, no entanto, nega a versão veiculada pela publicação nipo-britânica. "Já deixei claro que, após o encontro com investidores, não tive nenhuma conversa com o Shannon", disse ele à Folha de S.Paulo, acrescentando que "o diálogo citado na reportagem nunca existiu". "Durante a conversa com os investidores a situação política do Brasil foi questionada, e deixei claro que as eleições ocorreriam normalmente, que o presidente Bolsonaro respeitaria o resultado e que as Forças Armadas cumpririam seu papel constitucional."

O hoje senador reiterou nunca ter tido preocupação com eventual ruptura, "pois tinha confiança nos principais atores envolvidos, o presidente e as Forças Armadas". "Essa é a verdade, o resto é especulação."

Procurado pela reportagem, Shannon disse "não ter a intenção de entrar numa disputa pública com o general" mas reiterou que a conversa aconteceu. "Admiro Mourão e acredito que ele teve um papel importante em um momento importante. Dito isso, a conversa aconteceu. Não sei que razão eu teria para inventar que aquela conversa aconteceu."

Durante boa parte de seu mandato, e em especial na reta final, Bolsonaro deu diversos sinais de que poderia não respeitar o resultado das urnas, tendo como justificativa as alegadas ameaças de fraude nas urnas eletrônicas, que jamais foram comprovadas. Em 18 de julho de 2022, Bolsonaro reuniu dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para uma apresentação, na qual repetiu teorias da conspiração sobre os equipamentos de votação, desacreditou o sistema eleitoral brasileiro e promoveu novas ameaças golpistas e ataques a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Essa reunião é o ponto central do julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que começou nesta quinta-feira (22) e que pode deixar Bolsonaro inelegível.


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