SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma das principais estações de trem e metrô de Barcelona, na Espanha, foi paralisada na tarde desta terça-feira (27), por volta das 18h, por conta de uma suspeita de bomba.
É o segundo alerta em menos de 24 horas no mesmo local.
A estação da praça Catalunya está em uma das zonas mais movimentadas da cidade, no centro turístico e histórico, ao lado de centros comerciais e lojas como Apple e Zara. Por ali, passam milhares de pessoas por dia -- muitos deles, turistas.
Pouco mais de uma hora depois do alerta, a unidade de explosivos da polícia catalã, com a ajuda de cães treinados e especialistas, emitiu um comunicado oficial de que se tratava de um "falso alarme", e pouco a pouco se retomou a circulação normal das linhas.
**"CABOS E SOM DE RELÓGIO"**
Um segurança da própria estação chamou a polícia depois de identificar um pacote "suspeito" em uma lata de lixo.
Segundo ele, cabos e um som parecido ao de um relógio saíam do artefato.
Um dia antes, na tarde desta segunda-feira (26), um alerta falso de bomba também paralisou por 15 minutos as linhas de trem.
Neste caso, o pacote suspeito se encontrava dentro de um trem que vinha de Viladecavalls, município da região metropolitana de Barcelona.
**ATENTADOS NA ESPANHA**
O atentado mais grave em uma estação de trem na Espanha aconteceu em 2004, em Madri. Quatro mochilas-bomba em diferentes vagões resultaram em quase 200 mortes e mais de 2 mil feridos.
Na época, uma célula terrorista associada à Al-Qaeda assumiu a autoria do ataque. Trata-se do segundo atentado mais grave da história da União Europeia, atrás apenas da bomba que explodiu no avião da Pan Am em 1980, num voo entre Londres e Nova York, levando à morte todos os 270 passageiros.
No atentado mais recente, em 2017, muito perto da praça Catalunya, um jovem jihadista vinculado ao Estado Islâmico matou 16 pessoas e feriu outras 130 na Rambla, um dos principais passeios comerciais e turísticos de Barcelona, ao arremeter uma van contra os transeuntes em uma hora de pico, pouco antes das cinco de uma tarde de verão.
Eu já vivia na cidade. Como no ataque das torres gêmeas, todos nos lembramos onde estávamos no momento do ataque. Uma amiga que passava em uma rua lateral recorda a multidão desesperada, os gritos e a confusão: gente correndo pra dentro dos bares, comércios fechando persianas, a espera e a agonia na escuridão. Ela correu com todos pra dentro de um estabelecimento, sem saber o que se passava.
Por muito tempo depois do ataque, evitei a Rambla. Minha amiga também.
Barcelona é um memorial a céu aberto.
Diante do cine Coliseum, na Gran Vía, um monumento em homenagem aos mortos pela Guerra Civil entre 1936 e 1939 serve, agora, também para lembrar os mortos da Rambla.
No bairro medieval do Born, a chama perene no alto de uma torre curva de metal, conhecida como El Fossar (fossa, em catalão) de les Moreres, consagra a memória de um evento ainda mais longínquo, mas não esquecido: a morte dos defensores de Barcelona durante os ataques das tropas borbônicas em 1714.
No parque de Can Dragó, no bairro da Sagrera, um memorial nos recorda o maior crime já perpetrado pelo grupo terrorista basco ETA, em 1987, quando a explosão de um carro-bomba no estacionamento do supermercado Hipercor, em funcionamento até hoje nas cercanias, levou à morte de 21 pessoas.
Barcelona é um dos destinos mais visitados do mundo. Em 2022, estima-se que 7 milhões de turistas passaram pela cidade. Pra se ter uma ideia, o Rio de Janeiro, no top 100, recebeu 2,3 milhões no mesmo ano.
Passo pela estação Catalunya, sempre abarrotadíssima de turistas falando todas as línguas do universo, carregados com mochilas e crianças e presentes do Passeig de Gràcia, quase todo dia.
Esta tarde, ao saber das notícias, um amigo me ligou: "você está bem?"
E eu tive medo. É um momento. A vida. Na hora de pegar o trem de volta pra casa, vagões inusualmente vazios, pessoas entreolhando-se. A voz do condutor no alto-falante soa estranha, abrupta. Alguém escuta o anúncio, olha pra mim e pergunta: mas o que é que ele disse? E uma mulher ao meu lado comenta: hoje é um dia estranho. É, sim.
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