SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A decisão dos Estados Unidos de enviar bombas de fragmentação para a Ucrânia usar na guerra contra a Rússia é um sinal de "fraqueza", afirmou neste sábado (8) a porta-voz da chancelaria de Moscou, Maria Zakharova.

Na sexta-feira (7), após meses de negociações internas, o presidente americano, Joe Biden, deu sinal verde para o envio desse tipo de munição, que é proibido em mais de 120 países pelo seu potencial de deixar minas terrestres nos locais de lançamento por décadas após o fim de um conflito.

Morador de Liman anda de bicicleta após bombardeio na cidade, em Donetsk 8.jul.23/AFP **** Os EUA encabeçam o grupo de nações ocidentais que ajudam a Ucrânia com treinamentos e arsenal bélico. Essa última medida é parte de um novo pacote de segurança de US$ 800 milhões que eleva a ajuda militar de Washington para a Ucrânia para mais de US$ 40 bilhões desde a invasão russa, que completou 500 dias neste sábado.

Em comemoração ao marco, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, visitou neste sábado a Ilha das Cobras, no Mar Negro, que se tornou um símbolo desde o primeiro dia da guerra após guardas do local se recusarem a se render às forças russas.

Kiev agradeceu pela nova leva de armas dos EUA. O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikovque, disse que as bombas vão ajudar o país a desocupar os territórios dominados pelos russos e salvar vidas de soldados. Ele acrescentou que as munições "não serão usadas no território oficialmente reconhecido da Rússia".

Para Zakharova, porém, a atitude é "um ato de desespero e mostra fraqueza no contexto do fracasso da contraofensiva ucraniana tão alardeada". "A última 'arma milagrosa' em que Washington e Kiev estão apostando, sem pensar nas suas graves consequências, não terá efeito sobre a operação militar especial", forma como Moscou se refere ao conflito.

"Washington se tornará de fato cúmplice da saturação do território com minas e compartilhará integralmente a responsabilidade pelas vítimas causadas pelas explosões, incluindo crianças russas e ucranianas", completou a porta-voz, sem fazer menção a relatórios do Conselho de Direitos Humanos da ONU e da ONG Human Rights Watch que indicam o uso desse tipo de artefato por ambos os lados no conflito do Leste Europeu.

Aliados do país invadido se opuseram à iniciativa. O premiê britânico, Rishi Sunak, por exemplo, disse que o Reino Unido é signatário de uma convenção que proíbe a produção ou uso de munições do tipo --assim como outros sete dos 31 membros da Otan, a aliança militar ocidental-- e desencoraja seu uso. "Continuaremos a fazer nossa parte para apoiar a Ucrânia contra a invasão ilegal e não provocada da Rússia", disse o político a repórteres.

O Canadá, por meio de um comunicado, também registrou sua oposição e afirmou estar comprometido em acabar com os efeitos dessas munições sobre os civis. A Alemanha, outro aliado dos EUA, e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, tampouco estão de acordo com a decisão.

Embora o esperado contra-ataque da Ucrânia esteja indo mais devagar do que alguns esperavam, é precipitado tirar conclusões agora, segundo o principal consultor de políticas do Pentágono, Colin Kahl. "É muito cedo para julgar como a contraofensiva está indo, porque estamos no começo do meio do ano", afirmou.

Enquanto Kiev se armava, Moscou passou meses cavando posições defensivas, cercando-as com minas terrestres e construindo fortificações --estratégias que tornaram lentos e sangrentos os avanços ucranianos no leste e no sul.

"Eles ainda estão sondando as linhas russas em busca de pontos fracos. O verdadeiro teste será quando os identificarem", disse Kahl. "Queremos garantir que os ucranianos tenham artilharia suficiente para mantê-los na luta no contexto da atual contraofensiva".

A Ucrânia pode ter uma janela de oportunidade após o motim organizado pelo líder mercenário russo Ievguêni Prigojin no mês passado contra o presidente Vladimir Putin. Durante o levante, combatentes do Grupo Wagner tomaram brevemente uma cidade do sul da Rússia e marcharam em direção a Moscou antes de serem desmobilizados.

Segundo o acordo que pôs fim ao motim, Prigojin deveria se mudar para Belarus e seus homens --alguns deles ex-presidiários libertados para lutar na Ucrânia-- tiveram a opção de se mudar com ele, ingressar nas forças armadas regulares da Rússia ou ir para casa. Atualmente, porém, o paradeiro exato do líder e de seus mercenários não está claro.

O ditador belarusso, Aleksandr Lukashenko, disse na quinta (6) que Prigojin e milhares de seus combatentes ainda estavam na Rússia, levantando questões sobre a implementação do acordo. Mesmo assim, a Polônia começou a enviar mais de mil soldados para o leste do país neste sábado, segundo o ministro da Defesa, em meio à crescente preocupação do membro da Otan de que a presença de combatentes no país vizinho possa aumentar a tensão em sua fronteira.

Neste sábado, um bombardeio de artilharia russa matou pelo menos seis civis e feriu outros cinco em Liman, um importante entroncamento ferroviário na região leste de Donetsk, disse o governador regional, Pavlo Kirilenko. O ataque teria ocorrido pela manhã no horário local, em uma área residencial. "Uma casa e uma loja foram danificadas. A polícia está trabalhando no local", disse ele no aplicativo de mensagens Telegram.

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