SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um ano após a Suprema Corte dos Estados Unidos decidir que o aborto não é um direito constitucional, revertendo entendimento anterior, a maioria dos americanos segue apoiando o acesso ao procedimento, segundo uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (12).

Para 64% da população dos EUA, a interrupção da gravidez deveria ser legalizada em todos os casos ou, pelo menos, na maioria deles. Os dados, fruto de entrevistas com 1.220 maiores de 18 anos realizadas entre 22 e 26 de junho, são da AP-Norc, um centro de pesquisa que reúne um instituto da Universidade de Chicago e a agência de notícias Associated Press. A margem de erro é de 3,9 pontos percentuais.

Olhar o recorte partidário, porém, permite perceber a divisão da sociedade americana. Entre os que se identificam com o Partido Democrata, 87% defendem a legalidade do procedimento em todos ou na maioria dos casos --índice que cai para 38% entre os simpatizantes do Partido Republicano. Os 60% que defendem uma lei para legalizar o aborto nacionalmente tampouco são uniformes: a porcentagem sobe para 84% entre os democratas e cai para 32% entre os republicanos.

Nessa matéria, a preferência política é mais determinante do que a religião, de acordo com a pesquisa. Os democratas católicos apoiam em peso o acesso à interrupção da gravidez -o índice chega a 85% no grupo. Entre os republicanos que professam a mesma religião, por sua vez, apenas 38% se posicionam da mesma maneira.

A geografia também pode influenciar. Pessoas que vivem em estados com leis de aborto mais restritivas são menos propensas a apoiar seu acesso -embora cheguem a representar 53% da população, a maioria, nessas regiões. Já quem vive em locais com uma legislação mais flexível tende a apoiar o acesso ao procedimento: representam 70% dos habitantes desses estados.

Em relação ao prazo para realização do procedimento, o apoio cai em todos os grupos à medida que o tempo de gravidez aumenta. Até as 6 semanas, 73% dos americanos afirmam que o direito ao aborto deveria ser legalizado; até 15 semanas, 51%; e até 24 semanas, 27%. A proporção entre as porcentagens, porém, se mantém semelhante -o apoio ao acesso é maior entre os democratas e menor entre os republicanos em todas os períodos de gravidez questionados.

Há mais convergência quando se menciona a possibilidade de aborto em circunstâncias adversas, como gestações de risco ou resultantes de violência sexual. Para 86% dos americanos, deveria ser permitido interromper uma gravidez que representa um risco grave para a mãe. Já nos casos em que a criança nasceria com um questão de saúde que ameace a sua própria vida, 75% apoiam o acesso ao aborto. Gestações que são fruto de estupro deveriam poder ser interrompidas para 84% da população.

Em junho do ano passado, a Suprema Corte dos EUA decidiu que o direito ao aborto não seria mais constitucional, revertendo decisão que havia sido tomada pelo mesmo tribunal há 49 anos. Por maioria de 5 votos a 4, a corte considerou válida uma lei criada no estado do Mississippi, em 2018, que proíbe a interrupção da gravidez após a 15ª semana de gestação, mesmo em casos de estupro. Os magistrados usaram esse caso como oportunidade para derrubar outra decisão, conhecida como Roe vs. Wade, que liberou o procedimento nos EUA em 1973.

A mudança não proibiu a prática, mas abriu espaço para que cada um dos 50 estados adotasse vetos locais. Atualmente, 14 proibiram o aborto em todos os estágios da gravidez, com poucas exceções: Alabama, Arkansas, Idaho, Kentucky, Louisiana, Mississippi, Missouri, Dakota do Norte, Oklahoma, Dakota do Sul, Tennessee, Texas, Virgínia Ocidental e Wisconsin. A prática é ilegal após cerca de seis a 20 semanas de gravidez em outros sete estados.

Apesar das restrições, aqueles que conhecem alguém que não conseguiu fazer um aborto representam apenas 7% dos americanos. Por outro lado, a maioria -63% dos democratas e 53% dos republicanos- conhece alguém que tenha interrompido uma gravidez.


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