TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - O presidente recém-eleito do Paraguai, Santiago Peña, que toma posse daqui a um mês, defendeu neste sábado (15) a abertura dos arquivos da Guerra do Paraguai pelo Brasil e a devolução de equipamentos militares que estariam hoje em museus brasileiros.

Questionado se fará um pedido formal, disse que não quer "reescrever a história". "Não tenho ressentimentos, ódio ou raiva, mas acho que seria bom. Adoraria ter esse tipo de conversa com o presidente Lula, mas de uma forma positiva, não com uma reclamação."

Peña argumenta que seria bom não só para o Paraguai, mas para o Brasil entender o que ocorreu. O conflito militar, considerado o maior da história da América Latina, ocorreu de 1864 a 1870 e opôs a Tríplice Aliança de Brasil, Argentina e Uruguai ao Paraguai.

O paraguaio levantou ele próprio a questão em conversa com jornalistas no final de sua visita de cinco dias a Taipé, capital da ilha de Taiwan. O economista de 44 anos, que foi ministro da Fazenda e professor da Universidade Católica de Assunção, viaja neste domingo para tomar posse no dia 15 de agosto.

Comparou o Paraguai da época da guerra a Taiwan, "no meio de países muito grandes, que se provam muito complicados". Com a guerra, diz, "o Paraguai perdeu 60% de seu território e foi por muitos e muitos anos uma cova aberta", afetando o desenvolvimento.

Acrescentou que "não são apenas os arquivos: há equipamentos que foram tomados pelas forças brasileiras e que agora estão nos museus brasileiros, e isso pertenceu ao governo paraguaio". Ele reconhece que "poderá haver controvérsia, mas seria muito, muito bom".

Peña também defendeu ampliar o comércio com a China, que já é a maior compradora de soja paraguaia e "a maior provedora de bens" para seu país. Mas priorizou as trocas com Taiwan, que seria melhor para o desenvolvimento da economia paraguaia, para agregar valor.

"Adoraríamos fazer mais comércio com a China", acrescentou. "Mas também estamos buscando abrir o mercado dos EUA. Achamos que isso vai ocorrer em breve. Estamos trabalhando também com o Japão."

No caso da China, defendeu que o Mercosul feche acordo comercial com o país, como vem cobrando o Uruguai. O Brasil assumiu a presidência rotativa do bloco, e Lula chegou a apoiar um acerto com Pequim, mas só depois de outro, com a União Europeia.

O presidente brasileiro viaja neste domingo a Bruxelas, na Bélgica, para uma cúpula de latino-americanos e europeus, com o intuito de reduzir as diferenças para esse acordo. Lembrando que as negociações "têm mais de duas décadas", Peña não espera muito.

"A coisa está mais longe", diz o presidente eleito. "Lula é um presidente com muita liderança, estou pondo muita esperança que sua liderança no Mercosul será muito importante. Mas acho que o problema é mais na Europa, a complicação é do lado deles, não do nosso."

O bloco europeu estaria sob pressão de seus "produtores primários, que não podem competir com a produção dos países do Mercosul", segundo ele. "Não é fácil concorrer conosco", diz, propondo priorizar outros acordos e citando os Emirados Árabes Unidos.

Sobre Mercosul, fez ainda outra cobrança, lembrando que a entrada da Bolívia foi aprovada pelos demais e "só falta o Brasil". Questionado sobre um retorno da ditadura da Venezuela, evitou responder, mas disse que vai reocupar a embaixada em Caracas.

"Minha decisão é restituir a relação bilateral com a Venezuela. Vamos conversar com o governo. Nós temos uma posição muito clara de defesa dos direitos humanos e das liberdades políticas."

Sobre Taiwan, disse não ter adiantado nenhum negócio, por não ser ainda presidente. Nos encontros, segundo a imprensa local, chegou a dar seu país como "porta de entrada" para Taiwan no mercado sul-americano, citando especificamente o Brasil e a Argentina.

O Paraguai é um dos 13 países que reconhecem diplomaticamente a "República da China, Taiwan", como Peña se refere à ilha, ele que chegou a estudar numa universidade taiwanesa em 1999. Taiwan é considerada uma província rebelde por Pequim.

Em entrevista coletiva diária em Pequim, a porta-voz da chancelaria Mao Ning respondeu sobre a visita de Peña: "Defender o princípio de uma só China é a coisa certa a fazer. Acreditamos que o país relevante [o Paraguai] reconhecerá a tendência do mundo mais cedo ou mais tarde e tomará a decisão certa".


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