WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Em meio à sequência de investigações de que é alvo e enquanto espera ser indiciado na esfera criminal pela terceira vez, Donald Trump largou a corrida eleitoral atrás de seus principais adversários ?ao menos no que diz respeito às doações de campanha.
É o que mostram dados do Comitê Federal de Eleições do período em que surgiram as acusações contra o ex-presidente dos EUA. Entre 1º de abril e 30 de junho, Trump arrecadou US$ 17,7 milhões (R$ 85 milhões).
Em 4 de abril, ele se apresentou à Justiça de Nova York e se tornou o primeiro ex-presidente da história dos EUA réu por uma acusação criminal, envolvendo suposta fraude na compra de silêncio de uma atriz pornô. Em 13 de junho, voltou aos tribunais para responder a acusações federais de violações na lei de espionagem, entre outras, por documentos que não poderia ter levado da Casa Branca.
As acusações até impulsionaram as doações ao republicano, mas ele ainda está atrás de seus principais oponentes. Nessa primeira fase de doações, Joe Biden, atual presidente e candidato a reeleição, arrecadou US$ 19,9 milhões (R$ 95,6 mi). Mas o campeão foi o governador da Flórida, Ron DeSantis, que disputa contra Trump a indicação republicana. Ele levantou até aqui US$ 20,1 milhões (R$ 96,6 mi).
Já Mike Pence, que foi vice de Trump e aparece em terceiro lugar na corrida republicana, levantou apenas US$ 1,2 milhão (R$ 5,8 mi) nesse período, muito abaixo de outros pré-candidatos que pontuam bem menos que ele. Isso porque alguns de seus adversários, principalmente executivos como Vivek Ramaswamy e Doug Burgum (governador de Dakota do Norte), aportaram milhões de seus próprios bolsos.
Essa rodada de doações é fundamental para os pré-candidatos porque envolve a barreira do Partido Republicano para afunilar o número de concorrentes. Uma cláusula interna exige que, para se qualificar para o primeiro debate presidencial, pré-candidatos precisam alcançar 40 mil doadores pelo país, com ao menos 200 em 20 estados diferentes. O primeiro debate entre os candidatos republicanos acontecerá em 23 de agosto em Wisconsin e será exibido pela Fox News.
Em meio aos problemas na Justiça, Trump tem tido resistência entre doadores importantes do mercado financeiro. Análise dos dados do Comitê Federal de Eleições feita pelo canal americano NBC apontou que peixes grandes em Wall Street vêm apostando mais em seus rivais.
DeSantis recebeu doações de 15 grandes nomes como o bilionário gestor de fundos de investimento Paul Tudor Jones, segundo a reportagem. É uma reprise do que o ex-presidente viu quando tentou disputar a reeleição em 2020. Na ocasião, ele recebeu US$ 18 milhões (R$ 86 mi) de doações do mercado financeiro em todo o ciclo eleitoral, enquanto Biden recebeu US$ 74 milhões (R$ 355 mi).
Desta vez, a situação fica mais complicada para Trump porque ele vai disputar as primárias enquanto responde às acusações na Justiça e precisará convencer doadores a atrelar seus nomes a um réu.
Trump responderá em outubro a acusações civis de fraude na Justiça nova-iorquina junto a sua família por inflar o valor de suas empresas para conseguir benefícios financeiros, num processo tocado pela procuradora Letitia James. Em janeiro do ano que vem, deve responder a outro processo civil, por difamar a escritora E. Jean Carroll, que o acusa de estupro.
Em março, começa o julgamento de sua primeira acusação criminal, a de falsificar registros comerciais para esconder o esquema da compra de silêncio de uma atriz pornô na campanha de 2016. Tudo isso enquanto ocorrem as primárias republicanas. E ainda não há data definida para começar o julgamento da acusação federal que responde em Miami, por levar documentos secretos da Casa Branca, armazená-los sem cuidado e exibi-los a outras pessoas.
Além desses casos, Trump aguarda o terceiro indiciamento criminal ?e o segundo na esfera federal?, no inquérito que investiga sua responsabilidade na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Ele afirmou que recebeu uma carta no último domingo (16) pedindo que comparecesse à Justiça em quatro dias. ?nesta quinta (20), dia em que se reuniu o "grande júri", grupo de "pessoas comuns" previsto no direito americano que analisa indícios e decide se um processo criminal deve ou não seguir.
O ex-presidente não compareceu, mas William Russell, um auxiliar seu que trabalha na campanha de reeleição e estava com o republicano no dia da invasão da sede do Legislativo, esteve no tribunal em Washington, onde o grupo se reuniu.
A carta enviada a Trump pelo procurador especial para o caso, Jack Smith, aponta que ele é investigado por três crimes, segundo autoridades do Departamento de Justiça relataram à imprensa americana: privação de direitos, conspiração para fraudar os EUA e obstrução de Justiça.
As primeiras acusações inflamaram a base de Trump e melhoraram seu nome nas pesquisas ?ele é, de longe, o mais bem posicionado de seu partido?, mas o ex-presidente tem tido dificuldades de receber apoios de nomes grandes também dentro da legenda.
Trump tem se irritado com a falta de apoio do presidente da Câmara, Kevin McCarthy, que chegou ao cargo com seu apoio. No fim de junho, McCarthy disse que "não sabia" se Trump era o candidato mais forte do partido, o que provocou a ira do antigo ocupante da Casa Branca. McCarthy até tentou remediar, após a repercussão negativa, mas fato é que até agora não apoiou Trump expressamente.
Reportagem do portal Politico nesta quinta afirmou que, para acalmar o ex-presidente, ele prometeu que a Câmara vai votar para cancelar os dois impeachments que Trump sofreu na Casa ?ele foi absolvido no Senado e não perdeu o cargo, mas, no sistema político dos EUA, diz-se que um presidente sofreu impeachment mesmo que a votação só tenha passado na Câmara. McCarthy e seu grupo político próximo, no entanto, passaram o dia negando a veracidade da reportagem.
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