SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo do premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, assiste a sua aprovação desidratar à medida que avança no país uma controversa reforma judicial. Segundo duas pesquisas divulgadas na noite desta terça-feira (25), sua coalizão perderia cadeiras no Parlamento se novas eleições fossem realizadas agora.

Os levantamentos de duas das principais emissoras de notícias locais apontaram que o número de assentos da coalizão direitista no Knesset -Parlamento local formado por 120 vagas- cairia de 64 para 52 ou 53.

Apenas o partido do primeiro-ministro, o Likud, iria de atuais 32 cadeiras legislativas para 28, segundo pesquisa do N12 News, ou então para 25, de acordo com o levantamento do Reshet 13.

E esse não foi o único revés para Bibi, como o premiê é conhecido, que enfrenta forte oposição nas ruas, com massivos e frequentes protestos. A Suprema Corte local -o alvo preferencial da reforma em curso- anunciou nesta quarta-feira (26) que irá analisar recurso contrário à primeira parte aprovada do projeto.

Segundo a decisão publicada no site do tribunal, uma audiência será marcada para setembro, atendendo à demanda apresentada por um órgão de fiscalização política e pela Ordem dos Advogados de Israel, que solicitam que o Supremo barre o mecanismo da reforma aprovado no Parlamento na última segunda-feira (24).

Mesmo com boicote da oposição, o Knesset aprovou a primeira lei do pacote que limita o poder do Judiciário: a ordem que proíbe que tribunais usem o "padrão de razoabilidade" para invalidar decisões do governo. A medida impacta, por exemplo, a nomeação de ministros.

Críticos da mudança defendem que a extinção da figura jurídica dá margem a excessos do Legislativo, o que preocupa a oposição, dada a natureza ultranacionalista e religiosa da coalizão no poder.

As medidas de Netanyahu e sua coalizão são interpretadas por larga parte da sociedade -da imprensa a setores militares- como um ataque a pilares da democracia. Um demonstrativo da oposição foi dado na terça, quando jornais amanheceram com as capas pretas.

Em letras pequenas, os diários -Yediot Aharonot, Calcalist, Israel Hayom e Haaretz- estamparam na primeira página a frase "um dia sombrio para a democracia de Israel". No topo das páginas, explica-se que a ação se tratava de uma campanha de publicidade. Segundo o Jerusalem Post, a ação foi financiada pelo movimento Israel Hi-Tech Protest, grupo de representantes de empresas de alta tecnologia.

Nas ruas, a aprovação da lei amplificou os protestos. Manifestantes bloquearam rodovias em Tel Aviv, Haifa e Jerusalém, cidade no centro da disputa histórica com os palestinos, e a polícia atacou ativistas com canhões d'água e uso de cavalaria.

Nesta quarta-feira, uma paralisação de médicos terminou, enquanto protestos de rua diminuíram em grande parte do país. O Knesset se aproxima de um longo recesso do verão local, a partir do próximo dia 30. Legisladores se reunirão novamente em outubro, e Netanyahu estabeleceu novembro como meta de consenso com os partidos de oposição para avançar em outras partes da reforma.

Os Estados Unidos lamentaram a votação do Knesset e pediram consenso no governo. No entanto, não deram nenhum indício de que a gestão de Netanyahu poderia enfrentar consequências práticas, o que expõe os limites da influência do presidente Joe Biden sobre o líder.

Desde que o governo anunciou sua reforma judicial em janeiro, a cotação do shekel, a moeda nacional, caiu cerca de 10%.

Oponentes de Bibi tentam encontrar na ala mais moderada do Likud apoio para dissuadi-lo de avançar na reforma. "Há uma ala fanática que seguirá Netanyahu cegamente em qualquer abismo. No entanto, há uma massa crítica entre os eleitores do Likud que estão descontentes com o que está acontecendo agora", disse o analista político Amotz Asa-El, pesquisador do instituto Shalom Hartman, à Reuters.

A crise ocorre durante uma nova onda de violência na Cisjordânia ocupada. Também nesta quarta-feira, um homem de 23 anos foi morto a tiros por forças israelenses durante confrontos na cidade de Nablus, segundo a agência oficial de notícias palestina Wafa. Militares israelenses não comentaram o caso.


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