SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polônia acusou nesta terça (1º) Belarus de ter invadido seu espaço aéreo com dois helicópteros. Como reação, afirmou que irá enviar mais tropas para a fronteira entre os dois países, já reforçada desde que Minsk abrigou os mercenários russos do Grupo Wagner após motim fracassado contra sua aliada Rússia.

O incidente ocorreu durante um exercício militar na fronteira. Segundo mapas de monitoramento aéreo, um aparelho de ataque Mi-24 e um de transporte Mi-8 invadiram brevemente o céu polonês, fazendo uma curva sobre o parque nacional de Bialowieza.

O Ministério da Defesa belarrusso disse que "as acusações de violação são exageradas e usadas para justificar o envio de mais forças para a fronteira".

Na semana retrasada, os poloneses já haviam enviado mais soldados para a região fronteiriça devido à presença dos mercenários russos. O ditador belarrusso, Aleksandr Lukachenko, atiçou o fogo ao dizer que estava "contendo" os membros do Wagner, teoricamente presentes para treinar unidades de seu exército, porque eles queriam "passear em Varsóvia".

Nesta terça, ele voltou a fazer comentários nesse sentido. Na sexta retrasada, o russo Vladimir Putin havia dito sem provas que a Polônia pretendia intervir na Guerra da Ucrânia e, de quebra, ocupar militarmente territórios historicamente ligados a si na região oeste do vizinho. E ameaçou atacar quem se metesse com Belarus, que forma com a Rússia uma entidade chamada Estado da União desde 1999.

Uma criação de Putin como premiê, o Estado nunca decolou como uma repetição pálida da União Soviética, como alguns temiam. Mas a pressão política após os protestos maciços contra Lukachenko em 2020 levaram Minsk de vez à órbita de Moscou, tanto que o país permite o uso de seu território pelos russos contra a Ucrânia.

Desde a invasão russa do vizinho, foram estabelecidas unidades únicas russo-belarrussas e Putin estacionou armas nucleares táticas no país de Lukachenko. O movimento alarmou a Otan, aliança militar liderada pelos EUA que tem na Polônia, vizinha direta de Belarus, um de seus mais aguerridos membros.

Por mais que Putin considere a Guerra da Ucrânia um conflito de procuração do Ocidente, que armas e apoia Kiev, poucos analistas acreditam que ele arriscaria um confronto direto com a Otan. O clube de 31 países tem como base a defesa mútua em caso de agressão, e um embate com poloneses poderia escalar à Terceira Guerra Mundial.

Assim, toda a agitação dupla em fronteiras novas do conflito ucraniano, com a militarização do mar Negro após o fim do acordo de exportação de grãos de Kiev, e a tensão em Belarus, serve ao objetivo de pulverizar os flancos de preocupação do Ocidente enquanto crescem preocupações com o rumo da contraofensiva de Volodimir Zelenski.

Em casa, Putin deu uma outra sinalização importante de pressão ao subir de 27 para 30 anos a idade máxima de serviço militar sem mobilização, o que na prática pode lhe assegurar mão de obra abundante em caso de uma guerra mais longa ou ampla.

A Polônia, por sua vez, tem mantido o alerta máximo. Pediu para que os EUA estacionassem armas nucleares em seu território, como resposta ao movimento em Belarus, e estão em meio a uma compra enorme de equipamento militar: pretende gastar 4% de seu PIB este ano com defesa, o maior nível entre todos os colegas de Otan.

Os EUA estão fortemente implicados no país, com 10 mil soldados, forças mecanizadas e aviação de combate, além de operar o polêmico sistema de defesa antimíssil em solo polonês, gerando acusações de intenções agressivas por Moscou. A base aérea polonesa de Minsk Mazowiecki fica a apenas 190 km do ponto invadido de fronteira.


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