BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Os argentinos enfrentaram longas filas neste domingo (13) para escolher os candidatos que participarão das eleições presidenciais em outubro. Na capital, Buenos Aires, as primárias foram marcadas por críticas à organização dos centros eleitorais, com uma demora acima da média porque a votação no pleito local era feita separadamente, por meio de um sistema eletrônico.

Além dos postulantes à Presidência, os argentinos definem neste domingo os candidatos das diferentes forças políticas para um terço do Senado, metade da Câmara de Deputados e para governos importantes, como o da província e da cidade de Buenos Aires. Os eleitores portenhos, portanto, votaram em listas de papel para cargos nacionais e, em seguida, em urnas eletrônicas para cargos locais.

Dúvidas sobre como utilizar a máquina e falhas nos equipamentos em alguns lugares fizeram as filas se estender, apesar de parte dos colégios eleitorais contarem com funcionários que explicavam como usá-la. Muitos esperaram mais de uma hora e meia.

A candidata mais linha-dura da coalizão de direita Juntos por el Cambio, Patricia Bullrich ?que disputa uma vaga interna com o moderado Horácio Larreta?, foi uma das que teve problemas ao votar e precisou ter a urna trocada. "Não pude votar por sete vezes", disse depois de demorar 12 excruciantes minutos para marcar sua escolha numa cena transmitida pelas emissoras de TV. "Os sistemas eleitorais têm que ter um nível de maturidade", reclamou.

"Eu até tenho vontade de votar, mas se tiver muita fila não vou, estão dizendo que as máquinas não funcionam", comentava o motorista de aplicativo Oscar Andres, 52, em frente a uma escola em Belgrano, bairro abastado de Buenos Aires. Ele pretendia votar em Bullrich: "O diálogo não é ruim, mas neste país não serve para muita coisa. Bullrich tem mão dura, não vai se deixar dobrar como [o ex-presidente Mauricio] Macri", opinava.

Ao mesmo tempo, foram muitos os que votaram tranquilamente, como a funcionária administrativa Graciela Vildoza, 77, que saía sorridente de um dos colégios eleitorais da região. "Fui fiscal desde que se instalou a democracia nesse país, então para mim não há novidades", disse ela, que também optou por Bullrich "porque é preciso colocar ordem nesse país, tanto na economia quanto na segurança".

A violência e a inflação têm sido os dois grandes temas da corrida eleitoral até aqui. A desvalorização da moeda é citada por 55% da população como sua maior preocupação, e a insegurança, por 38% em uma pesquisa da Universidade de San Andrés ?mesmo que a Argentina seja considerada um dos países mais seguros da América Latina.

Até as 17h, 62% dos eleitores haviam votado, segundo a Câmara Nacional Eleitoral, dois pontos percentuais a mais do registrado nas primárias de 2019. O órgão temia um grande índice de abstenção, como ocorreu em outras eleições provinciais deste ano. Por isso, e de forma inédita, emitiu um comunicado incentivando a participação na semana passada.

Pela manhã, a juíza federal eleitoral responsável pela cidade de Buenos Aires, María Servini, enviou um comunicado à instituição eleitoral dizendo ser "preocupante o grau de improviso" observado nos centros de votação, "evidenciando uma falta de habilidade nunca antes vista na organização e execução de um processo eleitoral". O órgão respondeu, em nota, que as condições para a implementação da tecnologia não foram cumpridas pelas autoridades eleitorais da cidade.

O deputado ultraliberal Javier Milei, que também compete pela Presidência, foi outro que disse que o pleito portenho parecia ter sido organizado de "improviso", questionando, sem provas, a lisura da votação: "Quando querem fazer esse tipo de artimanha acontecem essas coisas", afirmou à imprensa depois de votar.

O candidato foi a opção do funcionário aduaneiro Hector Guantay, 39: "Votei em Milei porque gosto dos projetos dele, das ideias que tem para a juventude. Esses que estão aí há 40 anos não conseguiram resolver", afirmou ele, relatando que houve confusão no seu local de votação na cidade de Merlo, na região metropolitana, porque o mesário demorou a chegar.

Outro local onde as filas foram longas foi o bairro La Boca, point turístico próximo ao Caminito e ao estádio La Bombonera. Ali perto, Julio Cesar Nuñez, 52, contava porque votou no ministro da Economia Sergio Massa, candidato do peronismo. "Está vendo aquela caminhonete ali? Eu trabalho com isso, sou pobre. Não tem como eu votar no outro lado, que vai tirar os meus direitos".

As seções ficaram abertas de 8h às 18h. Depois desse horário, as portas dos centros de votação foram fechadas e os presidentes das mesas esperaram até que todas as pessoas nas filas depositassem seu voto para dar início ao processo de apuração. De acordo com o chefe da Direção Nacional Eleitoral (Dine), Marcos Schiavi, a expectativa é que os resultados se tornem públicos a partir das 21h.


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