SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A China disparou nesta segunda-feira (14) uma nova rodada de ameaças contra Taiwan após o vice-presidente da ilha, Lai Ching-te, visitar os Estados Unidos, principal rival de Pequim na Guerra Fria 2.0. Segundo o regime chinês, medidas "firmes e contundentes" serão tomadas em retaliação à viagem.

Provável candidato governista na eleição à Presidência de Taiwan em 2024, Lai fez escala em Nova York antes de seguir ao Paraguai, onde irá acompanhar a posse do presidente eleito, Santiago Peña. O país sul-americano é um dos 12 no mundo que mantém relações comerciais e reconhece a soberania taiwanesa.

Em solo americano, Lai foi recebido por manifestantes favoráveis à independência de Taiwan e se encontrou com representantes do Instituto Americano de Taiwan, que atua como representante da ilha nos EUA. Ele aproveitou a ocasião para cutucar o regime chinês. "Feliz por vir para a 'Big Apple', um símbolo de liberdade, democracia e oportunidade", escreveu ele na plataforma X, ex-Twitter.

Em nota o Ministério das Relações Exteriores chinês manifestou repúdio à visita e disse que o gigante asiático se opõe a "qualquer forma de intercâmbio" entre o governo americano e Taiwan.

"A China está monitorando de perto o desenvolvimento da situação e tomará medidas fortes e firmes para salvaguardar a soberania nacional e a integridade territorial", disse a pasta. "[A China] se opõe aos separatistas que buscam a 'independência de Taiwan' de entrar nos EUA sob qualquer nome ou motivo."

Em resposta, Lai prometeu resistir ao que chamou de "tentativa de anexação" do regime chinês. "Vou manter o compromisso de resistir [...] à usurpação da nossa soberania", disse ao taiwanês TTV News.

Ele é um dos principais nomes na corrida eleitoral para suceder a atual presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen. Ambos são do Partido Democrático Progressista (PDP), pró-independência. A líder, que não poderá se candidatar novamente, renunciou ao comando da legenda em novembro do ano passado. O posto foi passado ao vice, seu adversário nas primárias da campanha anterior.

O discurso de Lai nos EUA contrasta com falas recentes. O taiwanês construiu sua carreira política em cima do mote de que é "um operário político pela independência de Taiwan". Isso gera o temor, inclusive em Washington, de que uma eventual vitória sua acabe deflagrando reação de Pequim.

Daí ele ter declarado, ao assumir como presidente do PDP, em janeiro: "Eu gostaria de reiterar que Taiwan já é uma nação independente e soberana e, portanto, não precisamos declarar sua independência".

Já o regime chinês vê com desconfiança as reuniões entre líderes taiwaneses e representantes de países ocidentais, principalmente dos EUA, pois acredita que os encontros seriam uma forma de conferir legitimidade às autoridades da ilha.

Depois de Nova York, Lai viajou ao Paraguai -a posse do presidente Peña deve ocorrer nesta terça (15). Em entrevista à Folha, o paraguaio disse que pretende manter relações com a ilha de Taiwan, mas aumentar o comércio com a China. "Taiwan também tem uma relação comercial com a China continental",

Na volta, o taiwanês deve fazer outra escala em território americano, desta vez em São Francisco. De acordo com a imprensa de Taiwan, o vice-presidente pode se encontrar com políticos americanos, embora detalhes da agenda não tenham sido divulgados.

O regime chinês considera a ilha uma província rebelde e promete retomá-la pela força, se necessário. Nos últimos meses, Pequim vem aumentando as pressões militar e política contra a ilha.

O ápice das tensões aconteceu em agosto de 2022, quando a então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, fez a primeira visita de uma alta autoridade americana em 25 anos à ilha. Depois, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, retribuiu a visita. Em represália, as forças chinesas simularam um "cerco total" à ilha.


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