JOANESBURGO, ÁFRICA DO SUL (FOLHAPRESS) - A África do Sul é a anfitriã da cúpula do Brics que começa nesta terça-feira (22) em Joanesburgo. Mas um dos dirigentes dos países que integram o grupo formado ainda por Brasil, Rússia, Índia e China ganhará tratamento preferencial dos sul-africanos ao longo do evento --o líder do regime chinês, Xi Jinping.

Xi será recebido em visita de Estado poucas horas antes do início dos trabalhos da cúpula do bloco. O metafórico tapete vermelho estendido a ele pode ser lido como um reflexo da assimetria que existe nas relações entre os países do Brics, com Pequim ampliando cada vez mais sua influência sobre os demais participantes do grupo.

A reunião de Cyril Ramaphosa (África do Sul), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Narendra Modi (Índia) e Xi começa à tarde, com um evento empresarial na capital do país. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não viajou a Joanesburgo por causa de um mandado de prisão expedido contra ele pelo TPI (Tribunal Penal Internacional) por supostos crimes de guerra na Ucrânia. Ele participará da cúpula virtualmente.

Diversos outros convidados ainda participam do evento. Além de chamar líderes de outros países do continente, a África do Sul também convocou a presença de nações que demonstraram interesse em entrar no bloco. A expectativa, assim, é de que o evento atraia dezenas de representantes estrangeiros ao país.

Pela manhã, antes do início das atividades do Brics, Ramaphosa receberá Xi na sede de seu governo, em Pretória, a cerca de 50 km de distância do local da cúpula. A visita de Estado segue um protocolo próprio da diplomacia, com recepção de honra e agenda de trabalho detalhada sobre as relações bilaterais entre as nações.

O presidente sul-africano, aliás, realizou um discurso em rede nacional por ocasião da cúpula. Na ocasião, abordou o encontro que terá com Xi e disse que ele e o chinês pretendem assinar diversos acordos. Segundo a gestão em Pretoria, a visita de Estado de Xi, a segunda do tipo a ser realizada pelo líder chinês este ano, ocorre por ocasião dos 25 anos de relações diplomáticas entre os dois países.

Pequim tem papel central na agenda internacional sul-africana, com uma presença comercial que supera de longe a de qualquer outro sócio do Brics. A China responde por 12% de todas as exportações da África do Sul. Os Estados Unidos são o segundo colocado, com uma participação de 7,4%, segundo dados fornecidos por autoridades locais.

Os números são ainda mais expressivos quando se trata de importações, com a China respondendo por 23,3% do total de mercadorias estrangeiras no país. Lunting Wu, pesquisador da FGV Europe e da Freie Universität Berlin, diz não ser uma surpresa que uma visita de Estado de Xi ocorra à margem do Brics "dada a importância dessa relação". Ele também diz que os chineses costumam buscar realizar visitas semelhantes ao país anfitrião quando Xi comparece a alguma reunião multilateral --nesse sentido, o encontro que acontece até quinta-feira (24) não seria uma exceção.

Não é a primeira vez que os chineses são recebidos com tratamento especial à margem de uma cúpula do Brics. Em 2019, a reunião de líderes ocorreu em Brasília. O então presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma recepção oficial para Xi no Itamaraty em paralelo à cúpula.

Para além do poder comercial, os chineses têm à disposição recursos muito necessários à combalida economia da África do Sul. O ministro sul-africano da Eletricidade, Kgosientsho Ramokgopa, terá reuniões nos próximos dias com a China State Grid --gigante estatal do setor-- e com a China National Electric Engineering Company, por exemplo.

Num país que sofre há anos com uma crise de abastecimento de eletricidade por causa da falta de investimentos, a agenda de Ramokgopa com as empresas chinesas de energia foi divulgada com destaque pela presidência da África do Sul. A proporção da crise energética no país é tamanha que ele passa por racionamentos programados no fornecimento de eletricidade.

O principal tema na agenda desta edição do encontro entre os líderes do bloco é a sua expansão, assunto divide os atuais integrantes. Enquanto China, Rússia e África do Sul pressionam pela incorporação de novos membros, Brasil e Índia adotam uma posição mais cautelosa. Ambos dizem que estão dispostos a discutir o tema, mas afirmam que é preciso estabelecer os critérios pelos quais uma ampliação ocorreria.


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